Loucos, agora por eles mesmos
“Só quem pode dizer o que é a loucura é o próprio louco”. A frase é de Altair, paciente (ou melhor, “cliente”, como chamam lá) do Espaço Aberto ao Tempo, unidade “desinstitucionalizada” do Instituto Nise da Silveira. Ali os usuários têm ampla liberdade de ação e expressão, e os funcionários lutam permanentemente contra o modelo do “asilão”, tradicional e repressivo, explicitado no filme-referência Bicho de Sete Cabeças.
Altair é um dos vários entrevistados que demonstram grande capacidade de articulação e vida relativamente ativa. Essas características respondem também por um atitude bastante distinta das habituais depressão e defensividade dos doentes mentais ao se sentirem expostos. O resultado é uma visão positivante e bem-humorada do doente mental, inclusive por eles mesmos.
O diretor Rodrigo Séllos e o co-diretor Rená Tardin, ex-alunos da UFF, filmaram no segundo trimestre de 2005 e editaram o doc em 2009. Num modelo similar ao utilizado por Evaldo Mocarzel em alguns de seus filmes, eles combinaram o depoimento puro e simples com cenas em que os “clientes” colaboram na documentação do ambiente e na criação de performances. A câmera surge, então, como uma ferramenta que potencializa o desejo de interlocução do doente mental. Por vezes, alguns testemunhos se estendem além da conta, outros rondam a fronteira do mero “papo de maluco”. Mas, dentro de seus limites, o filme acaba provando a tese predominante nas falas: nem todo louco é incapaz de falar (e até rir) de si mesmo.
muito interessante o documentário, muito informativo e que deveria ser amplamente divulgado para que o povo seja ensinado a respeitar essas pessoas que sofrem tb com preconceitos.