A atração de hoje na Mostra Eduardo Coutinho do Canal Brasil, às 19 horas, é o documentário Peões. Abaixo, o pequeno comentário com que apresento o filme na sessão.

Peões foi rodado em 2002, simultaneamente à realização de Entreatos por João Moreira Salles. Enquanto Entreatos registrava os momentos privados da primeira campanha vitoriosa de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência, Peões saía em busca das memórias dos operários que participaram das greves históricas no ABC paulista em 1979 e 80, tendo convivido com Lula durante sua ascensão como líder sindical.

Se Lula era uma celebridade política, os personagens de Peões eram quase todos anônimos, do jeito que Coutinho gostava. Ele descartou até os ex-companheiros de Lula que haviam ascendido em postos sindicais. Queria os peões metalúrgicos, para quem as greves do ABC foram um momento especial em suas vidas.

O filme segue um modelo próximo de Cabra Marcado para Morrer. Coutinho parte de fotos e imagens de documentários da época para descobrir o paradeiro dos operários que se aposentaram ou mesmo retornaram para suas terras de origem, geralmente no Nordeste. A memória de uns vai puxando os outros, formando uma rede de pesquisa de personagens que constitui o próprio filme.

Mais uma vez, Coutinho foi atrás não da imagem de uma classe, mas de singularidades pessoais dentro de um grupo social específico. “Peões” recolhe histórias de orgulho, de esperança e também de algum desencanto. Cabe a cada espectador perceber as relações entre as histórias pessoais e a história política do país.