“Jogo de Cena” é o cartaz de hoje (domingo) na Mostra Eduardo Coutinho, às 19 horas no Canal Brasil. Abaixo, o pequeno texto com que introduzo a sessão:
Realizado em 2007, esse filme causou uma pequena revolução no documentário brasileiro. Coutinho radicalizava um procedimento fundamental em suas entrevistas: o de absorver as fantasias e “mentiras sinceras” das pessoas como parte de uma verdade que se revelava diante da câmera.
Aqui temos mulheres contando histórias de suas vidas num palco de teatro. Entre elas há personagens reais atraídas por um anúncio de jornal, atrizes pouco conhecidas e outras fartamente célebres, como Marília Pera, Fernanda Torres e Andréa Beltrão. Todas conversam com o diretor sem que fique sempre claro se estão falando de si mesmas ou representando o papel de outras. Enquanto ouvimos esses relatos e consultamos nossas dúvidas, vamos notando que as histórias é que importam, não tanto a legitimidade de quem as está contando. Nossa crença é posta à prova até o limite de percebermos que não importa crer, mas embarcar no fluxo das histórias, rir e chorar com as artimanhas da vida e da representação.
Como em tantos filmes de Coutinho, aqui mais do que nunca é o texto e a performance que assumem o centro da cena. Essa experiência ajudou a desmistificar toda intenção de pureza que se costuma atribuir ao documentário e fez o elogio da atuação dramática – mesmo quando ela nasce da mais profunda sinceridade.
Segundo Ismail Xavier, esse filme nasceu de uma conversa de Coutinho com esse professor e que, em um Festival em Londres, João Moreira Sales teria lhe transmitido os agradecimentos do amigo cineasta. Por essa e por outras, agradecemos ao professor.