João Silva (1935-2013), compositor nordestino bem menos conhecido do que merecia, não chegou a ver pronto esse filme com/sobre ele. Uma cena sugestiva, já perto do final, o mostra com alguma dificuldade de respiração enquanto caminha perto da casa de sua infância, em Arcoverde (PE). Mas antes disso, sua conversa sertaneja e loquaz enche o documentário e acrescenta mais um tijolinho à história da música popular brasileira que o cinema vem contando.
Apesar de semianalfabeto, João era capaz de criar canções “pegajosas” em ritmo industrial, forjar neologismos e desbravar sozinho o mercado da música como emigrado no Rio. A parceria com seu ídolo Luiz Gonzaga, na composição e na produção de discos, ajudou a guindar a carreira do rei do baião. Ele fez parte do famoso Trio Nordestino e teve forrós, xotes e baiões gravados pelas maiores estrelas do gênero.
Danado de Bom (título de uma de suas composições mais famosas) segue uma fórmula bastante comum no documentário musical dos últimos anos, alinhando falas de João e de admiradores com cenas de shows, algum material de arquivo e uma narração esporádica pela voz de Siba. A coisa parece feita no piloto automático. O tom é sempre laudatório, sem espaço para nenhuma mágoa ou conflito, a não ser rápidas referências ao alcoolismo e à má sorte no amor. A ideia de uma viagem rumo às origens não chega a se concretizar na tela, ficando apenas esboçada.
A simplicidade do filme de Deby Brennand suscita uma comparação com O Homem que Engarrafava Nuvens, de Lírio Ferreira, que tratava de outro parceiro de Gonzaga, Humberto Teixeira. Fica clara a diferença entre um projeto destinado a transcender seu objeto e outro que se limita a cortejá-lo como monografia tímida.