SEQUESTRO RELÂMPAGO
A cineasta Tata Amaral mantém uma relação visceral com São Paulo. Militante urbana e criadora audiovisual, ela já fundou o grupo Moradores de Pinheiros contra a Verticalização do Bairro, dirigiu a série documental Causando na Rua, sobre ativistas artísticos em espaços públicos, e tem a cidade muito presente em filmes como Poema: Cidade, Um Céu de Estrelas, Através da Janela e Antonia.
Desde as imagens de abertura de SEQUESTRO RELÂMPAGO, chama atenção o virtuosismo com que ela retrata a paisagem e os signos visuais paulistanos. São imagens muito bem construídas, pontuadas de cores vibrantes, que se estendem pela longa noite em que se passa o thriller.
Uma jovem com jeito de patricinha (Marina Ruy Barbosa) é sequestrada por dois caras para um saque no seu cartão de crédito. Mas, ao que parece, não é tão fácil sacar uma grana à noite na capital paulista. Então eles mantêm a moça e seu carrão sob a mira dos revólveres através de um périplo por várias regiões da cidade. Gênero: road movie urbano de assalto.
As tensões são construídas, ainda que de maneira frágil, em torno dos riscos que o trio enfrenta pelo caminho e das disputas entre os dois assaltantes – ambos misóginos, mas um deles inclinado para a ultraviolência. A ameaça de agressão sexual paira o tempo inteiro, desembocando numa conflagração que mistura diferenças de classe e opressão de gênero.
Embora seja baseado em história verídica, SEQUESTRO RELÂMPAGO soa inconsistente em alguns momentos cruciais de sua trama, como as desastradas tentativas de fuga e pedido de socorro de Isabel. A diretora, habitualmente engenhosa na condução de personagens, não conseguiu escapar a alguns clichês, especialmente nos episódios do receptador e da passagem por uma favela.
Uma insinuação interessante fica no ar a respeito da relação potencial entre a moça branca e o bandido negro, caso a situação fosse diferente. Em subtemas mais sutis como esse, que rompem o esquematismo dominante, além da pulsante representação de São Paulo, é que se encontra o melhor de Tata Amaral.