Recomendo a quem for ao festival algumas medidas essenciais: lembre-se de levar o seu comprovante de vacinação, que pode ser o certificado digital do ConecteSUS ou o comprovante em papel. Sem isso, a entrada nos cinemas não será permitida. Chegue de máscara e mantenha-a cobrindo o nariz e a boca durante todo o filme. Procure guardar o maior distanciamento possível entre as poltronas ocupadas.
Depois de Madalena, as transformações no campo ganham mais uma abordagem dramatúrgica sofisticada com Casa Vazia, primeiro longa do gaúcho Giovani Borba. Assim como o Centro-Oeste, o pampa sulino também vê suas lavouras serem ocupadas pelo gado e por imensas plantações de soja mecanizadas. Raul (interpretado pelo ex-peão Hugo Nogueira) é um trabalhador de estância que não consegue mais emprego. Para sobreviver, junta-se a outros peões no roubo noturno de gado próximo à fronteira do Uruguai.
A sequência inicial situa prontamente o entrecho principal do filme. Depois de ajudar a esquartejar uma rês, Raul retorna à casa perdida no meio do pampa apenas para encontrá-la vazia. Ele passa, então, a procurar pela mulher e os dois filhos desaparecidos. Ao mesmo tempo, um ex-companheiro tenta aliciá-lo para o lado do fazendeiro, integrando-se ao grupo de vigilantes que combate os roubos.
Os dados são jogados na mesa, mas não esquentam o jogo. Giovani Borba trabalha com uma desdramatização radical, como se nada repercutisse profundamente na consciência ou nas ações de Raul. Casa Vazia aposta num exercício de estilo à beira do slow film. Parece regido pelo ritmo pachorrento e a postura distante do protagonista, mesmo quando ele recebe a visita mítica do Negrinho do Pastoreio.
Os long shots magníficos do campo e a fotografia noturna sempre preciosa do mestre Ivo Lopes Araújo criam uma forte experiência visual, acompanhada pelas intrigantes paisagens sonoras e a trilha musical de Renan Franzen. Um filme, sem dúvida, muito consciente de sua forma, ainda que bastante vago no tratamento do seu tema.