Dossiê da impunidade

É Tudo Verdade: ASSASSINOS SEM PUNIÇÃO

Calcula-se que entre 750 mil e 1 milhão de pessoas estiveram diretamente envolvidas na matança do Holocausto. Dessas, apenas 1% sofreram algum tipo de punição. As demais se safaram e viveram o resto de suas vidas no exílio ou mesmo desfrutando de ampla liberdade e até de cargos importantes nos seus respectivos países, principalmente a Alemanha. A maioria não foi sequer procurada.

Assassinos sem Punição (Getting Away With Murder(s)) faz um extenso inventário dessa impunidade, que dura quase três horas. Seu diretor, David Nicholas Wilkinson, é um luminar do cinema britânico, com atividades nas áreas de produção, distribuição, jornalismo e ensaio. Ele conduz o filme como um apresentador de TV, caminhando nos locais de cada ação ou referência e ouvindo pesquisadores, dirigentes de instituições e sobreviventes de campos de concentração.

Um dos encontros mais preciosos é com o advogado Benjamin B. Ferencz (na foto acima com o diretor), que reuniu provas dos crimes de um importante grupo de extermínio e atuou como promotor num dos 12 julgamentos que se seguiram ao Tribunal de Nuremberg. Nessas e outras entrevistas, são demolidos os argumentos usados para deixar os assassinos em paz. A Guerra Fria resfriou a busca de justiça porque os EUA desviaram seu interesse para combater o comunismo. Houve razões religiosas contrárias à ideia de “vingança”, mas também pura e simples cumplicidade dissimulada por parte de muitos tribunais. O fato de não existir a noção de crime contra a humanidade antes de 1945 também serviu de pretexto para o corpo mole da Justiça.

Uma das virtudes do périplo de Wilkinson é evidenciar os crimes cometidos fora da Alemanha – na Lituânia, na Ucrânia, na Áustria e na ex-Tchecoslováquia, por exemplo – em estreita colaboração com o antissemitismo hitlerista. Wilkinson visita uma série de memoriais e levanta nomes de carrascos que ficaram impunes ou receberam penas mais brandas que um simples ladrão de galinhas.

Nem sempre se justifica a presença física da câmera em certos lugares, que mais parece atender a um imperativo de “movimentação” visual do roteiro. No intento de ser didático, o filme se estende também na apresentação de Auschwitz e de informações já bastante conhecidas. De qualquer forma, é um substancioso dossiê que atualiza essa história de impunidade com dados trazidos à tona recentemente. Talvez se acomodasse melhor numa minissérie, mas vale a pena seguir os passos de Wilkinson.

Exibição:
04/04 – 19h – online: É Tudo Verdade Play – Limite de 1500 visionamentos.

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