Os versos que vêm das quebradas

HISTÓRIAS E RIMAS no streaming

Para a galera do rap, a música não é apenas arte e negócio. É missão, filha, companheira fiel, produtora de orgulho para suas comunidades. Quem nos diz isso em Histórias e Rimas não é nenhum crítico ou sociólogo, mas os próprios criadores, à sua maneira. Rodrigo Giannetto fez um documentário performático, em que entrevistas, depoimentos e performances se confundem. Bem a propósito, uma vez que o hip hop é eminentemente autobiográfico.

Diante da câmera, perto de 50 rappers e alguns DJs apresentam seus bairros e quebradas, expõem seu processo de criação e fazem a conexão fundamental entre suas histórias de vida e o que vai parar nas suas rimas. Filmados entre 2009 e 2019, lá estão brasileiros como Mano Brown, Emicida, Karol Conká, Negra Li, Dexter, Tássia Reis, Thayde, André Ramiro, Marcelo D2, Fernandinho Bit Box (foto), Preta Rara e Sombra; e estrangeiros como Lounge Lo, Power Tongue, Eli Efi e Shame. Alguns apenas em princípio de carreira. Outros em embrião, como os infantis MC Kauan e MC Sophia. Tem gente do Rio, Niterói, São Paulo, Florianópolis, Los Angeles e Nova York, entre outros territórios.

No fundo, a temática não varia muito. Prevalece um misto de picardia e mensagens contra a desigualdade social, a violência policial e a estigmatização das favelas e periferias. A relação entre o rap e as emboladas nordestinas tampouco passa em branco. O filme embala tudo isso num ritmo hiper-fragmentado, que procura emular a cadência veloz do hip hop. No entanto, existe aí um paradoxo, já que as letras dos raps são narrativas geralmente longas e lineares, enquanto Giannetto pulveriza as falas sem muito apego à continuidade. Por sua vez, o uso exacerbado de uma câmera olho de peixe, em vez de particularizar a cena, acaba por homogeneizá-la e nem sempre se justifica.

Seja como for, Histórias e Rimas esbanja vivacidade nesse painel da criação musical periférica que migrou para o centro da cultura contemporânea.

>> Histórias e Rimas está nas plataformas nacionais Google Play, Apple Play, Vivo Play, Now e Microsoft, e nas internacionais Total Play, iTunes Latam, Google Latam e Microsoft México.        

2 comentários sobre “Os versos que vêm das quebradas

  1. Como tudo que você publica, Carlinhos, sobretudo com temáticas fortes e provocantes, como essa, nesses tempos sombrios da mais criminosa desigualdade social que estamos vivendo, é sempre oportuno, alentador e um prazer conhecer as manifestações artísticas desses segmentos dos jovens esquecidos das grandes metrópoles, pois eles são importantíssimos. Mesmo que ainda totalmente relegados à vala comum do esquecimento, pela indiferença das nossas elites egoístas e predatórias, que se lixam para a inexistentes políticas públicas para nossas esquecidas periferias, vítima de doenças, violência policial e carência de tudo, essa gente é criativa, brilhante e carrega o país nas costas. Na verdade, o país só não para, devido a eles. Como conheço a área, de “cabo a rabo”, com eles me identifico e me solidarizo, diariamente. “Show” de bola e minha gratidão pelo seu texto e “dica”, amigo Carlinhos!

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