Privilégios indigestos

O MENU no streaming

Assim como o recente Tempo, de M. Night Shyamalan e o mais festejado Triângulo da Tristeza, O Menu (The Menu) coloca os superricos, superfamosos e/ou superpoderosos em enrascadas fenomenais. São filmes feitos para satisfazer, digamos assim, a vingança dos pobres e anônimos, que não podem acessar os privilégios dos personagens. No três casos, estes são convidados para prazeres exclusivos em lugares remotos, separados do mundo dos simples mortais. O que a princípio parece “premium” vai se revelar degradante e funesto.

Na primeira sequência de O Menu, um grupo de pessoas está sendo recebido num barco rumo a uma ilha exótica onde se encontra o famoso e exclusivíssimo restaurante Hawthorn. Espera-os um extraordinário jantar servido pelo célebre chef Julian Slowik (Ralph Fiennes). O cardápio é tão sofisticado que Julian proíbe seus clientes de simplesmente “comer” – ao invés disso, os convida a degustar, saborear e outros eufemismos do gênero. Não há sequer lugar para pão, considerado coisa de pobre.

Um jovem e esnobe gourmand o idolatra depois de meses à espera de uma reserva; uma crítica de gastronomia decifra os requintes de cada prato; um ator famoso e um trio de especuladores financeiros se deliciam com os privilégios. A exceção fica com uma penetra (Anya Taylor-Joy), que evita embarcar na estranha trip culinária regida com pompa e arrogância pelo chef.

O Menu é dirigido por Mark Mylod, conhecido por assinar temporadas das séries Succession e Game of Thrones. Há todo um detalhismo de tipificação em cada personagem e um tanto de ligeireza na curva que os leva do pedantismo e da deferência à estupefação, à submissão e, por fim, ao pavor absoluto. Não há como negar que o filme entretém e gera boas expectativas. Aos poucos, porém, as promessas de uma parábola social vão se desfazendo como sorvete fora da geladeira. À medida que as intenções de Slowik vão ficando claras, entre tortillas-denúncia e iguarias ocas, toda a trama se mostra apenas um plano de revanche pessoal de um psicopata. Esqueçam Buñuel e se liguem nas extravagâncias sanguinolentas do slasher film.

>> O Menu está na plataforma Star+

2 comentários sobre “Privilégios indigestos

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