Mil e uma noites de Isfahan

Ponte Khaju

Em outros tempos, a mítica cidade iraniana de Isfahan já foi cenário do cinema de poesia de Pier Paolo Pasolini (As Mil e uma Noites), Agnès Varda (Plaisir d’Amour en Iran) e Claude Lelouch (Iran). O filme de Pasolini é citado neste vídeo que editei com as imagens colhidas durante minha viagem ao Irã, em abril último.

A reputação de Isfahan vai muito além dos tapetes persas mais famosos do mundo. Ela ostenta sem modéstia o título de mais bela cidade do Irã. Apesar das restrições impostas pelo regime islâmico autoritário, Isfahan é elegante e descontraída, além de limpíssima como todas as cidades iranianas.

Praça Naqsh-e Jahan

Sua principal atração, mas longe de ser a única, é a imensa Praça Naqsh-e Jahan (Imagem do Mundo), a segunda maior do mundo depois da Praça da Paz Celestial de Pequim. Construído no século XVI, quando Isfahan era a capital do Império Persa, esse espaço monumental é ladeado por duas enormes e belíssimas mesquitas, um palácio e a entrada imponente do principal bazar da cidade. No centro ajardinado, onde se encontra uma grande piscina, o povo se diverte, faz piqueniques (uma instituição urbana no país) e passeia de trolley ou charretes puxadas a cavalo. O cenário e o alarido só se alteram com o acender das luzes quando cai a noite.

Como se pode ver nas imagens das mesquitas do Xá, Sheik Lotfollah e Jameh, esses templos iranianos se diferem não por seus interiores, geralmente muito vazios, mas por seus pátios grandiosos cercados de “diwans” (cada portal de entrada). A decoração, em azulejos coloridos e inscrições corânicas, cria uma ambientação feérica.

Palácio Chehel Sotoun

Isfahan tem pelo menos dois palácios esteticamente extraordinários: o Ali Qapu (Grande Portal), localizado na praça já citada, e o Chehel Sotoun (40 Colunas), onde Pasolini filmou cenas picantes de As Mil e uma Noites. Neste último, o salão de murais hipercoloridos retrata batalhas e banquetes com vinho e mulheres dançando, coisas interditadas na atual República Islâmica. No anexo de um palácio mais modesto, Hash Behesht (Oito Céus), encontra-se um simpático Museu da Música, cheio de instrumentos exóticos, e onde um grupo de jovens instrumentistas se apresentou nas cenas que abrem meu vídeo.

O bairro armênio é outra atração imperdível, com ruas e praças apinhadas de jovens descolados, moças resistentes ao uso do véu, o busto de um crítico de cinema (creio que único da espécie no mundo) e uma catedral de interior deslumbrante, inteiramente coberto por pinturas cristãs.

Outra marca inconfundível de Isfahan são as pontes antigas que cruzam o Rio Zayandeh. Três delas estão no meu vídeo. São outros points de lazer e discretos romances para os isfahanis. Na ponte Khaju, à noite, moradores e turistas se esbaldam em saraus e cantorias sob as luzes douradas.

Hotel Abbasi

O hotel Abbasi, instalado no local de um antigo caravanserai (ponto de descanso de caravanas), é mais um lugar que desperta o encantamento, inclusive dos turistas que não se hospedam lá. Para minha sorte, foi onde eu passei três noites que valeram por mil e uma.

Para finalizar, recomendo que não percam o bazar dos manequins sinistros. Com direito a música de Bernard Herrmann.

5 comentários sobre “Mil e uma noites de Isfahan

  1. Ti piacciono le poesie d’amore? Eis aqui uma, em imagens únicas, by Carlinhos. Que privilégio esse olhar sobre um lugar especial! Imaginamos a emoção de seu guia ao ver este filme. Belo, belíssimo. Obrigado. Bjs nossos.

  2. Amei ver ! Por enquanto 20 minutos ! Isfahan e Caravanserai, e os contos com Regina Machado e Stela Barbieri… Amei Carlos querido, quero saber de quem é a câmera ! Obrigada ! Idê

Deixar mensagem para carmattos Cancelar resposta