Sortilégios da velha Kashan

Jardim Fin

A fantástica arquitetura iraniana tem uma de suas melhores e mais concentradas vitrines na cidade de Kashan, localizada 250 km ao sul de Teerã. A região é tida pelos estudiosos como um dos mais antigos centros de civilização da pré-história. Alguns afirmam que os reis magos que acorreram a Belém com presentes para Jesus teriam vindo de Kashan.

Mas tudo o que ainda se vê hoje na cidade remonta principalmente aos séculos XVIII e XIX, quando Kashan foi reconstruída pelo terremoto de 1778 e dotada da exuberante decoração da dinastia Qajar.

Suas mansões históricas são incontornáveis. Visitei duas delas: a Casa Borujerdi e a Casa Tabatabaei, ambas riquíssimas em pinturas de parede, pátios graciosos, cúpulas esculpidas, vitrais coloridos e torres de captação de vento. Consta que a Casa Borujerdi foi construída ao longo de 18 anos, com o concurso de quase 200 artesãos.

As Termas do Sultão Amir Ahmad, com seu labirinto de compartimentos decorados com ladrilhos coloridos e arte em gesso, é um bom exemplo de como a elite iraniana de outrora se refugiava do calor do verão e cuidava do corpo. Já o Grande Bazar de Kashan impressiona pelos altíssimos saguões encimados por cúpulas tão belas quanto as das mais belas mesquitas.

Mesquita Aqa-Bozorg

Por falar em mesquitas, colhi belas imagens de duas delas: a do Imam Ali, de interior coberto dos reluzentes mosaicos de espelhos iranianos, e a sublime Aqa-Bozorg, que encanta sobretudo à noite pelos efeitos da iluminação.

Declarado patrimônio universal pela Unesco, o Jardim Fin ostenta não apenas árvores estupendas e um pomar que os persas comparavam ao paraíso, mas também um Pavilhão Qajar adornado com requintes pictóricos de fazer cair o queixo.

Terraço do hotel Saraye Ameriha

O hotel onde me hospedei, instalado numa antiga mansão histórica com terraços panorâmicos, atraía minhas lentes a ponto de me dificultar a saída para outras atrações. Meu fabuloso guia Ali Edraki tinha que me arrastar para conhecer o resto da cidade. Kashan é um banquete de sortilégios.

Vejam o vídeo, com trilha musical de Javid Afsari Rad, virtuoso instrumentista iraniano radicado na Noruega e formado na tradição da música persa.

 

5 comentários sobre “Sortilégios da velha Kashan

  1. O Irã nunca foi um destino que me atraísse. Até assistir ao seu vídeo. Eu também relutaria em deixar o hotel com esse terraço fantástico, mas que bom que o seu guia foi resiliente e te arrastou para fora. Tudo é atraente, da poeira na rua em busca de um restaurante ao brilho dos mosaicos de espelhos. Me imaginei caminhando pelo Jardim Fin ao seu lado. Você, como sempre, tirando o que há de melhor de qualquer lugar e nos oferecendo de bandeja. Já ansiosa pela sua próxima viagem.

  2. Carlinhos! Vejo todos os seus vídeos feitos no Iran e gosto bastante. Pra mim, é uma viagem (maravilhosa) no tempo pois estive no Iran em 1976 e tenho grande paixão por esse país. Imagine que alegria assistir esses vídeos! Obrigado, obrigado!

      • Carlinhos! Acredito que sim, diferente! Porém, em essência, o Iran é o mesmo, forte e admirável país até hoje e sempre. Estive lá em 1976 no Festival de Teerã com meu filme A Lenda de Ubirajara junto com minha ex companheira Luna AlKalay. Apesar de cruzarmos no hotel diariamente com grandes figuras do cinema como Kurosawa, Elia Kazan, Lauren Bacall e muitas outras personalidades; de termos à disposição uma Mercedes Benz com motorista (com direito a agente da SAVAC no banco da frente!!!); passeio a Persérpolis no avião do Xá, etc, não gostávamos daquele fausto parleviano e preferíamos andar pela cidade com os cineastas jovens que nos mostravam um outro Iran. Nos contavam perigosamente o que estava acontecendo nos bastidores do festival e do país. Sentíamos no ar o clima do que estava para acontecer e era perigosíssimo falar com qualquer pessoa do festival. Não deu outra, um ano depois que saímos de lá, o regime caiu. Chegamos a comemorar de Portugal onde estávamos morando. Depois veio a Teocracia, as perseguições e perdemos o contato com o país que tanto admiramos pela luz, beleza, arte/arquitetura, cultura, música, etc. A mesma coisa aconteceu no Afeganistão que tinha a mesma luz e beleza. Pouco tempo depois que saímos os russos chegaram. Sorte e destino, não sei. Obrigado pelas imagens. Abração.

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