FILHO DE BOI
Embora seja uma ficção, Filho de Boi pode ser tomado como uma continuação do belíssimo documentário Jonas e o Circo sem Lona, de Paula Gomes. Jonas Laborda, o menino que sonhava em montar o seu próprio circo, está de volta, já rapaz de cabelos compridos. Ele agora atua como assistente de câmera e, na frente dela, como integrante da troupe do Circo Papa Léguas, que chega à pequena cidade de Tamburi, no sertão baiano, para se apresentar e eleger um novo palhaço entre os moradores locais.
Paula Gomes ocupa agora as funções de corroteirista e produtora, ficando a direção a cargo de Haroldo Borges, parceiro do coletivo Plano 3 Filmes que exercera funções semelhantes em Jonas (2015) e já dirigira o menino Laborda envolvido com circo no curta Sonhos, em 2013. Ou seja, estamos falando do trabalho extensivo de um grupo baiano que tem o circo como núcleo dramático recorrente.
Em Filho de Boi, a lona colorida do Papa Léguas atrai o interesse do menino João, filho de um vaqueiro e sanfoneiro amargurado e autoritário (Luiz Carlos Vasconcelos). Espezinhado pelos meninos do lugar e chamado de “filho de boi”, ele deseja sair dali, como a mãe havia feito. É tímido e taciturno, mas mesmo assim, e por motivos que o roteiro não explica, é ele o escolhido como palhaço sem mesmo ter se candidatado ao posto. Essa incongruência narrativa se projeta sobre o decorrer do filme, à medida que vai se colocando a questão: João seguirá com o circo ou atenderá às ordens do pai para manter-se fiel ao sedentarismo sertanejo?
Uma tragédia no passado do circo joga sombras sobre a alegria dos palhaços e malabaristas. Da mesma forma, o triste fim de um boi na sequência inicial parece prenunciar os riscos de se transpassar as cercas para um mundo que não é o seu. Nesse ponto, o filme arrisca veicular uma mensagem conservadora e pouco libertária.
A ingenuidade do argumento poderia contar a favor se o tratamento não fosse igualmente ingênuo. Mas o que prevalece são os lugares-comuns do bullying, do palhaço humilhado, dos choques entre a autoridade paterna e o sonho infantil, entre a exuberância do circo e o retraimento do menino. Pouco expressivo, o ator João Pedro Dias deixa o personagem sem nuances, ao passo que a luminosidade estridente do sertão explode nas lentes da câmera, empunhada sofregamente na mão em quase todas as situações.
Distante do nível de realização de Jonas, ainda assim Filho de Boi tem sido selecionado para vários festivais internacionais e recebeu um prêmio do público no Festival de Málaga, na Espanha.

