MAIS PESADO É O CÉU
A antiga cidade de Jaguaribara, no Ceará, inundada nos anos 1990 para a construção do açude Castanhão, é o cenário invisível de Mais Pesado é o Céu, vencedor dos prêmios de melhor direção, fotografia e montagem no Festival de Gramado de 2023. A história de seu fim foi belamente contada pelo documentário Memórias da Chuva, de Wolney Oliveira. Já nessa ficção de Petrus Cariry, Jaguaribara pode ser vista como uma metáfora de sensibilidades humanas submersas na carência e na precariedade.
Antonio (Matheus Nachtergaele) e Teresa (Ana Luiza Rios, prêmio especial do júri em Gramado) se encontram por acaso, à beira do vastíssimo açude. Ambos estão regressando aos vestígios da velha cidade em busca de alguma coisa vaga entre a lembrança da infância e a busca de oportunidade. “Essa coisa de querer voltar”, como resume Teresa. Ele é um imigrante e trabalhador precarizado à procura de rumo. Ela acabara de encontrar um bebê abandonado. Julgando tratar-se do filho dela, Antonio se põe a ajudá-la, daí nascendo uma relação de sustentação mútua, mas também de desespero compartido. Uma moradora local (Silvia Buarque), reminiscente de outra era, surge como contraponto à instabilidade dos dois.
Grande parte do filme se passa em estradas, onde Teresa se vira com motoristas de caminhão e Antonio chega a pedir esmolas para “menino com fome”. A situação exige do espectador uma boa dose de renúncia da verossimilhança para aceitar que aquelas duas almas penadas tentem se acomodar à extrema penúria num lugar semi-abandonado. As ideias de morte e mudança de vida se confundem na ausência de perspectiva que o cenário ermo quer representar.
O capricho visual típico de Petrus Cariry (sempre responsável também pela fotografia) e toda a competência técnica da produção não chegam para dissimular as lacunas psicológicas dos personagens e o miscast de Nachtergaele. Isso acaba pesando contra uma fruição mais engajada do filme.
Um aspecto interessante é a figura do bebê, que funciona como uma justificativa para as melhores intenções de cada personagem. Ele seria o elemento de redenção de um possível casal, não fosse o final de impacto que desfaz qualquer esperança.
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