MEU CASULO DE DRYWALL
Drywall, para quem não sabe, é um tipo de placa de gesso cartonado que se usa para construir paredes internas, bancadas e móveis. O casulo a que se refere o título desse filme é, por um lado, o condomínio de luxo em São Paulo onde tudo acontece – uma espécie de prisão que mantém os moradores sob constante escrutínio das câmeras de vigilância. Por outro, é o casulo em que as pessoas se colocam ao se fecharem no círculo das redes sociais e de suas obsessões individualistas burguesas.
Em boa medida, Meu Casulo de Drywall é um exemplar de white-rich-people problems. Embora tenha na amiga Luana uma personagem negra e aparentemente pobre, os convidados para a festa de 17 anos de Virgínia (Bella Piero) e seus respectivos pais são gente rica, branca e afundada em suas próprias convicções. A mãe de Virgínia, vivida com ênfase melodramática por uma Maria Luísa Mendonça de rosto repaginado, teme pela segurança da filha durante a festa só com jovens.
De fato, vários perigos rondam a aniversariante. Um amigo antissocial destrói câmeras de vigilância, Luana lhe oferece comprimidos de anfetamina, o namorado lhe intimida com uma arma na hora do sexo. A própria Virgínia é um barco à deriva em meio a esses impulsos, exibindo nos braços e no tronco feridas que se agravam ao longo da noite e que ninguém percebe. Junte-se a isso cenas de automutilação, homossexualidade clandestina, mulheres alheias à realidade e homens que agridem mulheres.
Ao que parece, esse coquetel de psicopatias (não só juvenis) pretende falar sobre os limites da segurança e da felicidade em espaços superprotegidos e bem aquinhoados como aquele condomínio. O horror não vem só de fora, mas habita o mesmo ambiente. Amigos também podem machucar.
Tudo, porém, se dissipa numa narrativa pretensamente não linear, mas apenas dispersiva, na qual os vários subtemas e personagens batem cabeça. Para criar um arremedo de mistério, o roteiro alterna os tempos da festa e do dia seguinte, quando Virgínia aparece morta num sofá. Nesse vai-e-vem somos guiados pela exímia fotografia de Hélcio “Alemão” Nagamine, com tons quentes para a comemoração e frios para o pós-tragédia. A trilha suntuosa e às vezes assustadora de Flávia Tygel é quase onipresente. Na cópia que vi, a mixagem de sons tornou muitos diálogos inaudíveis ou incompreensíveis, fato recorrente em vários filmes brasileiros recentes que exploram várias camadas sonoras.
>> Meu Casulo de Drywall está nos cinemas.

