Namoro de alto risco

A GAROTA DA VEZ

Histórias de serial killers costumam ser um parque de diversões para roteiristas. Pode-se narrá-las em vários formatos: do ponto de vista do assassino ou das vítimas; em cronologia linear ou não linear; privilegiando um dos casos ou a pluralidade. A Garota da Vez  (Woman of the Hour) toma um caminho interessante ao pontuar alguns episódios anteriores e posteriores ao principal. Dessa maneira, no roteiro esperto de Ian McDonald, a construção do suspense se dá pelo método hitchcockiano: nós e uma determinada personagem dentro da trama sabemos o risco que corre a protagonista, mas não ela.

A atriz Anna Kendrick estreia na direção com esse thriller compacto e muito bem conduzido, assumindo também o papel central. Ela é Sheryl, atriz iniciante que topa participar de um programa de namoro na TV para ganhar visibilidade. Um dos três candidatos é Rodney Alcala, o serial killer que vemos atuar contra outras mulheres. O costarriquenho Daniel Zovatto faz um Rodney assustador, que passa de garotão sedutor a esfinge ameaçadora num piscar de olhos. Em nenhum momento é atingido pela caricatura, nem pela exploração da violência.

A curva dramática da personagem de Sheryl é exemplar, culminando com uma sequência fabulosa em que ela e Rodney se encontram num estacionamento deserto. Em sua busca de relevo na cena artística, Sheryl tem a oportunidade de evidenciar o machismo e a objetificação da mulher na Hollywood dos anos 1970, onde se passa essa história real. A forma como ela subverte sua participação no famoso programa The Dating Game é divertida e ao mesmo tempo ilustrativa daquele status quo.

Na onda de true crimes que invade os cinemas e o streaming, A Garota da Vez tem virtudes acima da média, sendo um bom cartão de visitas para essa nova diretora.

>> A Garota da Vez está nos cinemas. 

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