O VOO DO ANJO
Apesar dos muitos clichês nos diálogos sobre administração do luto e superação de perdas, Othon Bastos e Emilio Orciolo Neto têm uma interação convincente em O Voo do Anjo. O venerando Othon, com a pompa suave que marca suas interpretações, vive Victor Falcão, professor de Física viúvo e aposentado.
Solitário no dia dos seus 88 anos, ele pede o jantar de um restaurante. Quem vai fazer a entrega é Arthur (Emilio), professor de Sociologia em crise de depressão por motivos familiares. Daí nasce uma relação de amizade com tudo aquilo a que um melodrama tem direito: conselhos paternais, identificações insuspeitadas, salvações recíprocas e abraços acolhedores. Além de algumas conversas sobre poesia.
O filme de Alberto Araújo é centrado no huis-clos com os dois homens e mais a esposa de Arthur (Dani Marques), dilacerada pela tragédia cuja culpa atribui ao marido. Entretanto, há tomadas insistentes de uma Goiânia sofisticada, paisagem de torres modernas e belos parques que buscam passar uma imagem arrojada da cidade, vista a partir da suntuosa cobertura onde Victor mora. Quando os personagens saem dos recintos fechados é para veicular merchandisings acintosos das empresas apoiadoras. No mais gritante de todos, o roteiro simplesmente faz um desvio para elogiar uma vinícola em tom assumido de publicidade.
Previsível em seu encaminhamento dramático, O Voo do Anjo tenta também alguns alívios cômicos, principalmente a cargo de Dora (Cida Mendes), a colaboradora doméstica de Victor. Mas, em matéria de superação, é a boa química entre os dois atores centrais que supera o convencionalismo do filme.
>> O Voo do Anjo está nos cinemas.

