Neonoir com tempero baiano

RECEBA!

O cinema baiano de vez em quando flerta com o gênero policial. O flerte mais notório é o clássico Tocaia no Asfalto, de Roberto Pires, execrado pelo pessoal do Cinema Novo nascente, mas revalorizado em seguida. Em 2016, a Bahia fez o seu Tropa de Elite, intitulado Rondesp – Tropa de Elite da Bahia. No início deste ano, foi lançado C.O.E. – Comando de Operações Especiais, enfocando uma batalha entre a polícia e traficantes de drogas. Com distribuição mais ampla, chega agora às telas nacionais o thriller Receba!, dirigido por Pedro Perazzo e Rodrigo Luna com base em livro de Ana Paula Maia.

A ação se passa em dois ou três dias, quando um ator pornô em dificuldades financeiras se apossa de uma grande soma de dinheiro do tráfico de cocaína. Antes mesmo que possa usufruir da grana com sua mulher, ele é tirado da jogada enquanto os homens do tráfico saem à sua caça. A trama é contada de modo um tanto rocambolesco, com voltas no tempo e pontos de vista distintos, em busca de um gato e rato à moda do Tarantino inicial. Mas nem tudo se encaixa com precisão, e algumas reviravoltas soam gratuitas, como um atropelamento que redefine o curso dos acontecimentos.

A ambientação em prédios depauperados de Salvador, estúdio de cinema pornô e academias de ginástica e boxe serve a um tipo de cinema neonoir periférico que certamente estava no horizonte dos realizadores. Os atores estão bem na maior parte do tempo, na chave de um naturalismo tenso. Pena que as peripécias aos poucos saiam dos eixos e se tornem apenas mais e mais violentas, sem que a dramaturgia acompanhe. O fato de a virtual protagonista ser feminina (Edvana Carvalho), como a de Corpos Ardentes, poderia ter sido melhor aproveitado antes de seu crescimento nas cenas finais.

>> Receba! está nos cinemas.

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