FLOW
Como aventura de sobrevivência, Flow (Straume) não chega a apresentar grandes novidades. Durante uma grande enchente, um gato é obrigado a superar sua aversão à água e compartilhar um barco salvador com outras espécies de animais. Mas essa animação indicada para representar a Letônia no Oscar, e já detentora dos prêmios do júri e de trilha sonora no prestigioso Festival de Annecy, cativa o público principalmente pelo tratamento que dá a seus bichos-personagens.
A começar pela ausência de falas em linguagem humana – e de qualquer criatura humana. Os animais se expressam e se comunicam com suas vozes naturais.
Nenhum deles tem nome, portanto. Isso já reduz drasticamente a antropomorfização que caracteriza a imensa maioria das animações com animais. Ainda que, para a construção da narrativa, algum efeito desse tipo seja necessário. Mas o que se impõe é a ilusão de que estamos presenciando o comportamento de bichinhos reais.
Na maior parte do tempo, cada um deles age conforme sua peculiaridade mais costumeira: o gato sempre arisco e assustado, o cachorro adepto das brincadeiras, o lêmure narcisista e coletor, a garça altaneira, a capivara estável e indiferente. Eles se reúnem no barco como numa Arca de Noé sem Noé, onde precisarão aprender a conviver com as diferenças e exercitar a solidariedade. Para tanto, deverão renunciar a suas respectivas naturezas, o que fornece a Flow o seu caráter de fábula.
Mensagens à parte, o filme de Gints Zilbalodis é um primor de execução, especialmente se considerarmos que foi inteiramente realizado na plataforma gratuita e open source Blender. Vale reparar no detalhamento realista da vegetação e da água, ou na beleza extravagante das paisagens supostamente orientais e das passagens mais oníricas que se descolam da ambientação natural.
Se o gato acaba se familiarizando um pouco demais com as águas do dilúvio, este é um pecado menor para as muitas virtudes de Flow.
>> Flow tem lançamento no Brasil previsto para 30 de janeiro.


teste
Felizasso que esse filme ganhou o Oscar. Saber que ele foi feito por uma equipe de cinco pessoas, um software gratuito e na Letônia deixa tudo ainda mais especial.
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