Notas sobre SOL DE INVERNO e THE MOON – SOBREVIVENTE
Gagueira emocional e expositiva
Um dos protagonistas de Sol de Inverno (Boku no ohisama) é um garoto gago. Mas essa característica não diz respeito somente a ele, já que o filme de Hiroshi Okuyama trata de gagueira sentimental. Ou seja, aquela dificuldade que se pode ter para expressar sentimentos. Entre os japoneses, isso é especialmente frequente, dada a ética do recato que prevalece nas relações interpessoais.
O menino Takuya joga beisebol e hóquei no gelo, de acordo com o cenário das estações na região montanhosa onde vive. Não parece muito interessado nos esportes. Quando chega o inverno, ele se encanta com a patinação artística, sobretudo com a adolescente Sakura, exímia e graciosa patinadora. Esta, por sua vez, só tem olhos para o seu técnico, Arakawa, que tem um passado de estrela da modalidade. Arakawa percebe o interesse de Takuya por Sakura e passa a treiná-los juntos como uma dupla de dança no gelo.
Isso dá margem a Okuyama para criar muitas cenas bonitas de patinação ao som do Clair de Lune de Debussy, projetando o olhar subjetivo de Takuya para Sakura e de Arakawa para ambos. Um subtexto afetivo começa a se esboçar entre o deslizamento dos patins e as massas de luz que invadem os ambientes. A menina demora bem mais que nós a perceber que Arakawa é gay e que os interesses do trio não se encaixam perfeitamente apesar do laço superficial que se estabelece entre eles.
Sol de Inverno é farto em insinuações, mas tampouco escapa de uma certa gagueira expositiva. O ciúme, as interdições e o conflito ficam apenas esboçados. Responsável também pelo roteiro, a fotografia e a montagem, Okuyama narra o filme com o retraimento que afeta seus personagens. Face à neve abundante na cidadezinha, ele procura uma atmosfera cálida e suave, um tom de inocência quase pueril para amenizar os impasses desse pequeno romance de formação.
>> Sol de Inverno está nos cinemas.
2029, uma geleia no espaço
A space opera, tão bem representada por “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, é reduzida à dimensão do filme-catástrofe nessa produção coreana que especula sobre o lugar da Coreia na corrida espacial. The Moon – Sobrevivente (Deo Mun) nos transporta para o ano de 2029, quando a disputa pela primazia de pisar na Lua e usufruir de supostas riquezas minerais teria chegado a um clímax.
O programa espacial coreano fora vitimado por um fracasso cinco anos antes, e chegou a hora de lançar uma nova operação rumo à Lua. Mas a missão novamente se vê ameaçada por todo tipo de contratempo: uma explosão solar, chuva de meteoros, acidentes com os módulos da nave, perdas de comunicação com a Terra. Resultado: dos três astronautas enviados, dois morrem e resta o sobrevivente, jovem filho de outro mártir da missão anterior. É preciso resgatá-lo a qualquer custo.
Está montado o cenário para um melodrama lacrimoso, envolvendo o diretor de voo da missão de cinco anos atrás e uma coreana que dirige o Portal Lunar da NASA. Culpa, vaidade, sentimento nacionalista e apelos à união internacional se digladiam enquanto as autoridades envolvidas se dividem entre vilões coreanos e vilões estadunidenses.
De resto, é aquela típica alternância entre as tecnicalidades da sala de controle na Terra e os apuros do astronauta no espaço. Os valores de produção são inegáveis, assim como a montagem e os efeitos visuais. Mas tudo acaba se estendendo demais e ficando cada vez mais cafona, com uma trilha musical invasiva e onipresente. Esse filme só nos lembra que já passou a hora de deixarem a Lua em paz.
>> The Moon – Sobrevivente está em cartaz em São Paulo.


