SETEMBRO 5
Que outra razão haveria para um filme voltar à tragédia das Olimpíadas de Munique de 52 anos atrás senão o intuito de relembrar um precedente da ação do Hamas em outubro de 2023? Isso parece claro em Setembro 5 (September 5), muito embora o foco esteja deslocado do incidente em si para os bastidores da histórica cobertura do canal estadunidense ABC. Propaganda israelense, como alguns vêm acusando? Não acho que chegue a tanto, mas o aroma do oportunismo está no ar.
Tecnicamente, o filme é interessante por evocar um período em que a televisão era uma maquinaria pesada. O estúdio montado na Vila Olímpica de Munique tinha moviolas imensas, monitores de bunda grande, telefones com fio, fotos analógicas, filmagens com celuloide 16mm, ventiladores – um bunker que hoje parece do tempo do onça. Ali a equipe de Esportes disputava com a de Jornalismo o privilégio de cobrir o evento in loco. Para tanto, enviava ao centro da ação um repórter disfarçado de atleta e uma tradutora improvisada como repórter. O sinal de transmissão tinha que ser dividido com a CBS. As tensões eram muitas, as decisões eram difíceis em função da ética jornalística, da dificuldade de acesso e dos riscos corridos pela equipe.
Uma montagem ágil articula o material original da ABC com a encenação da newsroom, tudo com uma textura de imagem que remete aos grandes filmes sociais dos anos 1970. De qualquer forma, para ter uma visão mais clara do acontecimento, é melhor recorrer ao premiado documentário Munique, 1972: um Dia em Setembro, de Kevin MacDonald, que esmiuça a tomada de reféns pelo grupo Setembro Negro, exigindo a libertação de 200 palestinos presos em Israel. O resultado foi a morte de 11 atletas israelenses, cinco sequestradores palestinos e um policial alemão.
Quem saiu mais tisnado do evento foram os alemães, incautos em toda a operação e infelizes no plano final de criar uma emboscada para os sequestradores. A Alemanha usava as Olimpíadas para redimir-se dos crimes do nazismo, mas acabou favorecendo outro massacre. Setembro 5 sai pela tangente ao privilegiar o trabalho jornalístico e deixar todo o resto em segundo plano.
>> Setembro 5 está nos cinemas.

