O BRUTALISTA
As partes principais de O Brutalista (The Brutalist) se passam entre 1947 e 1958, época em que surgiu o estilo brutalista na arquitetura, marcado por construções de massa compacta e geométrica influenciadas pela Bauhaus. O personagem central do filme teria sido, portanto, um dos pioneiros dessa escola. Mas o filme de Brady Corbet também aspira ao mesmo porte monumental, sólido, massivo. Tem 3 horas e 25 minutos, com Overture, Intervalo e Epílogo – tudo assim, com letras maiúsculas. A imagem se abre na magnitude do Vista Vision típico dos anos 1950. A trilha sonora de Daniel Blumberg confere tons operísticos a certas passagens.
Mas o que temos por trás dessa embalagem meio épica, que parece ambicionar a grandeza de Paul Thomas Anderson em Sangue Negro? Não é muito, ouso dizer.
Tudo começa como um drama do pós-guerra, quando o arquiteto húngaro László Tóth, egresso de campos de concentração, chega a Nova York para começar nova vida. Recebido por um primo, inicia sua jornada reincidente de acolhimentos e expulsões. Sina de judeus sobreviventes. László tem a sorte de cair nas graças de uma família superrica, que o contrata para projetar um centro cultural no alto de uma colina na Pensilvânia.
A história desse homem ao longo de mais de 30 anos é uma montanha russa de sucessos e humilhações. Sua mulher, tida como morta, reaparece com uma limitação física importante. A sobrinha querida e traumatizada quer se mudar para Israel. A relação com o patrão, o mecenas esnobe e manipulador Van Buren (Guy Pearce), é de amor e ódio em proporções indecifráveis. Viciado em heroína, László se mostra uma pessoa vulnerável ao extremo, o oposto do projeto compacto que ele defende para a obra em curso.
O Brutalista tem a pretensão de ser um painel sobre os conflitos entre a arte, a memória histórica e o capitalismo. László é o criador que se deixa usar pelo magnata, um tanto para sobreviver, outro tanto para dar aos seus traumas um destino edificante. Nesse sentido, talvez não fosse necessário apelar à metáfora do estupro constante do último ato.
Por vezes, tive a impressão de que o filme não é exatamente grande, mas sim pomposo e inchado por subtramas e alongamentos desnecessários. A sequência nas pedreiras de mármore de Carrara, por exemplo, indicam somente uma extravagância de produção, sem ressoar no espírito da história (a não ser que consideremos ter sido dali que Michelangelo retirou o material para suas obras-primas). Nem todos os personagens me pareceram agir de maneira dramaticamente congruente, sobretudo o primo e o patrão de László.
Adrien Brody está no seu elemento e se mostra apto a levar o Oscar de melhor ator. Para além de sua empenhada interpretação, estamos diante do portfólio de um bom cineasta, desejoso de mostrar que sabe filmar diferentes conjunturas e lidar com as dimensões de uma saga. Mas O Brutalista, até o seu epílogo banal em 1980, não chega à altura de suas elevadas pretensões.
>> O Brutalista está nos cinemas.


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