PARTHENOPE: OS AMORES DE NÁPOLES
Na mitologia grega, Partenope foi uma sereia que se lançou ao mar quando suas canções não conseguiam atrair Odisseu. Seu corpo foi levado até a costa da atual Nápoles, que outrora se chamava Partenope. Já para a mitologia contemporânea do diretor Paolo Sorrentino (A Grande Beleza, A Mão de Deus), Parthenope é uma garota bonita que, pelo contrário, atrai a todos e todas. Vemo-la crescer entre 1968 e algum ano recente, cercada de olhares apaixonados e de gente deprimida. Deprimidos chiques, é claro, pois Sorrentino não despreza sua ideia de elegância.
E o que é essa ideia de elegância? São cenários suntuosos de Nápoles, vistas deslumbrantes da cidade e do mar, muitas cenas em slow motion, uma câmera pretensamente sedutora que se desloca lentamente como num comercial de perfume e “namora” a atriz Celeste Dalla Porta como se fosse mais um (privilegiado) pretendente. Celeste, por sua vez, caminha como se estivesse sempre numa passarela de moda e encara a câmera como se quisesse lambê-la no próximo minuto. Tudo é, principalmente, decorativo. E um prato cheio para quem critica o tal “male gaze” que fetichiza o corpo feminino.
Numa sucessão de encontros com homens e mulheres de cepa variada, sempre com meio seio aparecendo sob a roupa, Parthenope atravessa alguns arquétipos italianos, daqueles que Fellini um dia explorou, ele sim com originalidade e intensidade. O culto à beleza, o encantamento masculino perante a mulher jovem, a hipocrisia religiosa e as excentricidades de comportamento são tratados por Sorrentino como clichês enjoativos que não somam para uma narrativa coerente.
Parthenope estuda Antropologia e desenvolve uma relação meio filial com o professor. Fica a um passo do incesto com o irmão de tendências suicidas. Manipula o amor do filho de um empregado. Sobra sensualidade até para a intimidade de um cardeal. Sequências pretensamente impactantes incluem uma noite de núpcias em público e a revelação de uma bizarrice corporal absolutamente gratuita. Abundam as frases de efeito, do tipo “O desejo é o mistério e o sexo, seu funeral” ou “No fim da vida, só a ironia permanecerá”. A pretensão só não é maior que o vazio resultante desse pastiche de romance de formação. Dessa vez, a grande beleza de Sorrentino foi um mergulho no vácuo.
P.S. Entre as várias canções que tentam elevar o charme do filme está A Gira, composição umbandística do nosso Trio Ternura.
>> Parthenope: Os Amores de Nápoles está nos cinemas.

