Cães de aluguel

SERRA DAS ALMAS

O Brasil corrupto tem sido um prato cheio para a dramaturgia no cinema. Volta e meia nos deparamos com um político canalha, bandidos sanguinários e jornalistas cheios de boas intenções. Serra das Almas nos serve um risoto desses ingredientes regado a muito sangue e falação.

Numa casa no interior rural de Pernambuco se encontram três criminosos com graus diferentes de psicose, duas jornalistas sequestradas por eles e um casal inocente que mora ali. Gradativamente, a história se divide em três tempos para esclarecer como cada um chegou até esse ponto. Por trás de tudo está um senador envolvido com o contrabando de pedras preciosas.

Lírio Ferreira estreia no filme de ação pleno depois de tangenciar o gênero em longas como Baile Pefumado e Árido Movie. O bicho leva jeito na condução das cenas mais emblemáticas, optando por uma montagem ágil e contando com a fotografia atmosférica de Pedro Von Krüger e atores bem preparados por Silvia Lourenço. Mas a escritura do roteiro não contribui muito para um melhor resultado.

A alternância entre os tempos mais dilui que intensifica o interesse por uma trama que, afinal, não rende muito. As interações entre os personagens masculinos (quase todos cafajestes, claro) se estendem em diálogos enfadonhos que parecem uma tentativa de emular Quentin Tarantino antes que as mortes se acumulem espetacularmente. É inevitável vir à lembrança Cães de Aluguel, mas sem a ironia pop que temperava aquele filme.

Para apreciar Serra das Almas – e não nego que possa haver apreciadores –, é preciso acatar inverossimilhanças como uma telejornalista investigativa se dispondo a filmar diretamente uma receptação de contrabando com risco de vida. Ou uma moça ferida a tiro na perna que permanece em pé para a imagem de sororidade que precisa coroar a parábola. Eis, portanto, a figuração de um mundo ideal, aquele sem homens.

>> Serra das Almas está nos cinemas.

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