Ficção científica sobre um trauma português

TERREMOTO EM LISBOA

O terremoto seguido de tsunami e de numerosos incêndios que atingiu Lisboa em 1º de novembro de 1755 deixou cerca de 10 mil mortos e destruiu três quartos da cidade com repercussões nos países fronteiriços. Foi o sismo mais pesquisado da história e abalou até as convicções filosóficas sobre a existência de Deus. Esse trauma histórico está na base de Terremoto em Lisboa, peculiar exercício de ficção científica que em Portugal se chamou O Melhor dos Mundos.

A ação se passa em 2027. Um pequeno grupo de cientistas conduz uma nova sondagem submarina para prever abalos sísmicos. Os sensores indicam a iminência de um terremoto de intensidade próxima dos 9 graus, semelhante portanto ao de 1755. Os pesquisadores passam, então, a debater se devem ou não alertar as autoridades para evacuarem a cidade.

O que parece um ensaio de filme-catástrofe na verdade se resume a um debate sobre ética científica e responsabilidade social. A discussão, regada a trilha musical de suspense, abrange também a preocupação dos cientistas com suas carreiras e suas posições pessoais diante do dilema. A controvérsia vai afetar até mesmo o relacionamento amoroso entre a sismóloga Marta (Sara Barros Leitão) e o oceanógrafo Miguel (Miguel Nunes), colegas de equipe que são também um casal.

As querelas sobre atividades microssísmicas e suas tecnicalidades preenchem a maior parte do filme de Rita Nunes. Elas têm uma base factual no projeto de sensores submarinos que vem sendo instalado pelo governo português no Atlântico. Há, portanto, um misto de ficção de gênero e drama acautelatório sobre uma possibilidade sempre iminente no imaginário português. Em 2024, pouco antes do lançamento do filme em Portugal, o país sofreu um abalo sísmico de 5,3 na escala Richter.

Mais que mostrar o que seria uma ocorrência do tipo, Terremoto em Lisboa quer fazer imaginar uma situação de caos urbano e tensão pré-apocalíptica. As desavenças entre os cientistas, que nos filmes-catástrofe costumam ser questão paralela, aqui ocupam o epicentro.

>> Terremoto em Lisboa está nos cinemas.

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