Uma mãe sob influência

ENTRE NÓS, O AMOR

Dei esse título a minha resenha pelo tanto que me lembrei de Gena Rowlands enquanto via Valeria Bruni Tedeschi interpretar a atormentada Nicole. Não é o caso de álcool e desequilíbrio mental, como em Uma Mulher sob Influência, mas de uma inaptidão contumaz para fazer as escolhas certas. Aos 52 anos, Nicole está sem emprego e sem marido, cheia de dívidas no banco e com um filho adolescente (Félix Lefebvre) que não suporta mais viver numa casa de subúrbio cheia de plantas e ratos, e onde não pode ficar à vontade com a namorada. Na noite de Natal, um presente equivocado da mãe sela o rompimento com o filho.

Por falar em escolhas, não entendi o título brasileiro, Entre Nós, o Amor, nem muito menos o original, Une Vie Rêvée (uma vida sonhada). O único sonho presente no filme de Morgan Simon é uma piada com a internet. Desde a cena de abertura, vemos Nicole às voltas com um guarda-chuva encrencado, metáfora de tudo o que anda errado em sua vida. E Valeria, com sua performance calorosa de humanidade – que, aliás, me lembrou também a Malu de Pedro Freire – nos sintoniza de pronto com o doce e o patético da personagem.

Numa cena, Nicole zomba das boas intenções de Macron para com o povo francês. Ela descrê da política, assim como não parece botar fé em mais nada. Seu contato com vizinhos imigrantes tampouco aponta para qualquer perspectiva de afinidade. O amor pelo filho que a despreza não deixa lugar para outros sentimentos.

O que talvez pareça um simples filme de mulher em crise acaba evoluindo para algo mais invulgar a partir de um plot twist, a amizade de Nicole com a dona de um café (Lubna Azabal). Embora caminhe para um final meio piegas, Valeria Bruni Tedeschi convoca nossa empatia até o último olhar.

>> Entre Nós, o Amor está nos cinemas.

Um comentário sobre “Uma mãe sob influência

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