UMA BELA VIDA
Aos 92 anos, Costa-Gavras demonstra interesse pelas questões do fim da vida ao levar para o cinema o livro Le Dernier Souffle (O Último Suspiro), de Claude Grange e Régis Debray. Os dois personagens centrais do filme se inspiram nos autores do livro. O médico Claude Grange dirige há mais de 25 anos um hospital de cuidados paliativos para pessoas desenganadas na França. O jornalista e filósofo Régis Debray registrou as histórias de Claude e as complementou com reflexões sobre a importância de se manter a dignidade dos últimos momentos.
No filme, enquanto investiga a gravidade de uma mancha no pulmão, o filósofo Fabrice Toussaint (Denis Podalydès) passa a acompanhar o médico Augustin Masset (Kad Merad) em sua assistência aos doentes terminais. Pretendem escrever um livro juntos a partir da experiência de um e da inquietação do outro. Tudo o que Fabrice ouve de Augustin repercute em sua própria consciência a respeito da finitude e da necessidade de estar preparado para a morte.
Não é assunto agradável, mas necessário e, afinal, incontornável. As histórias que o médico compartilha com o filósofo envolvem doentes que não se conformam com o diagnóstico, parentes que insistem em estender tratamentos inúteis e pacientes que aceitam serenamente o seu fim. As discussões dizem respeito à medicina paliativa em oposição à medicina curativa; aos dilemas médicos sobre dizer toda a verdade aos pacientes e seus familiares; ao melhor lugar para morrer e à necessidade de se compreender que o fim da vida é também parte da vida. Tudo isso contra o pano de fundo de uma França com número cada vez maior de idosos.
Afora o tema um tanto depressivo, Uma Bela Vida (Le Dernier Souffle) se ressente de uma estrutura narrativa um pouco pobre, que sugere uma pesquisa mal disfarçada em filme. A maneira como os relatos do Dr. Augustin se sucedem, caso após caso, parece mecânica e pouco inspirada. Denis Podalydès tem pouco mais a fazer além de arregalar os olhos diante do que vê e ouve.
Compreende-se que Costa-Gavras quis fazer um filme formalmente simples, que se apoiasse sobretudo nas questões abordadas pelo médico. Ainda assim, alguns trechos se destacam com maior vivacidade. Entre eles, as participações de Angela Molina como uma cigana que toma para si as rédeas de seu último suspiro e de Karin Viard como uma oncologista que encerra o filme veiculando mensagem de esperança no próprio corpo.
>> Uma Bela Vida está nos cinemas.


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