MONSIEUR AZNAVOUR
Um filme “das antigas” sobre um artista “das antigas”. Assim me pareceu essa cinebiografia de Charles Aznavour (1924-2018). O modelão “do berço ao túmulo” e “from rags to rich”, se não for bafejado por um sopro de criatividade maior, cai sempre na rotina do filme episódico, que vai saltando de um momento para outro da vida do biografado sem projetar um sentido maior para toda a história.
Monsieur Aznavour volta às origens de Charles em sua pobre família de ciganos armênios, os Aznavourian, e à primeira entrada do menino num palco. Das modestas imitações de Charles Trenet ao sucesso com suas próprias canções, Charles passa pela parceria com Pierre Roche e pelo apadrinhamento um tanto castrador por parte de Edith Piaf, que lhe aconselha a remodelar o nariz. Feio, baixinho, desajeitado e de voz rouca, Aznavour precisou trocar várias vezes de imagem e de performance até se consagrar como um dos grandes da chanson francesa. E alcançar um almejado salário igual ao do Frank Sinatra.
Dividido em capítulos com os títulos de suas canções mais famosas, o filme se resume a uma sucessão dos chamados fatos determinantes, mas nada ressoa com alguma emoção. De uma sequência para outra, tudo muda como num passe de mágica (ou de roteirista). Burocrático. Resta-nos acompanhar, sem grande envolvimento, a tajetória de um homem capaz de se impor no showbizz, mas não de criar laços humanos duradouros e consistentes. Exemplo de artista infeliz apesar do êxito.
No papel-título, Tahar Rahim faz o que pode para sugerir as forças e fraquezas de Charles, mas não consegue evitar a impressão de cafonice que se espalha pelo projeto. A direção a quatro mãos volta a reunir dois parceiros já de outros filmes e muitos music videos, Mehdi Idir e o poeta e músico Fabien Marsaud. Este último adotou o nome artístico de Grand Corps Malade (Grande Corpo Doente) depois que ficou com sequelas de um grave acidente de mergulho em 1997.
Material mais interessante sobre Aznavour foi o documentário Le Regard de Charles, exibido aqui no Festival In-Edit de 2020. Resgatava as muitas filmagens em Super 8 que Charles fazia de sua viagens, bastidores e cenas de família entre 1948 e 1982. Era um filme muito bonito e sugestivo sobre a vida de alguém que queria ver/filmar tanto quanto era visto, ouvido e admirado.
>> Monsieur Aznavour está nos cinemas.

