PACTO DA VIOLA
Pacto da Viola arrisca-se a parecer um filme anacrônico na medida em que trata de crendices sertanejas ainda vigentes em meio a um Brasil rural em transformação. Histórias de pacto com o diabo há muito deixaram de ser contadas, a não ser pelas formas escandalosas do gênero terror contemporâneo. Pacto da Viola toma um rumo bem diverso, sem glamourizar o assunto nem buscar impactos fáceis. Mas, ao contrário, corre o risco de impactar de menos.
Há várias dicotomias envolvidas. O filme começa com a morte de um boi num matadouro moderno de Brasília e termina com o sacrifício de outra rês numa pequena comunidade do sertão mineiro. A vida simples do povo contrasta com a pujança da cultura da soja e com a fazenda altamente mecanizada que avança sobre as terras do lugar. O apego às tradições religiosas e às modas de viola não dialoga mais com os jovens descolados que se balançam ao som da música eletrônica e sonham em emigrar.
Alex (Wellington Abreu) já não consegue vender os CDs com suas músicas de viola. Deixa o emprego em Brasília e segue para Urucuia (MG) a fim de ajudar o pai enfermo. O velho Lázaro (Sérgio Vianna), violeiro devotado à Folia de Reis, recusa-se a receber tratamento e confia numa certa proteção sobrenatural que o mantinha saudável e exímio na viola. Apesar dos alertas da jovem Joyce (Gabriela Correa), Alex vai sendo aos poucos abduzido pela lógica mágica do entorno do pai.
A atuação comedida e sutil de Wellington Abreu, que é também palhaço, diretor de teatro e um dos fundadores do Coletivo de Cinema da Ceilândia, é um trunfo nas mãos do diretor estreante Guilherme Bacalhao. Mas não é o único. Guilherme demonstra segurança na linguagem e se beneficia da ótima fotografia de André Carvalheira. O elenco atua com naturalidade, e a narrativa visual é muito bem conduzida, apesar de o roteiro não resolver a contento as muitas insinuações deixadas pelo caminho.
Entre as violadas langorosas da trilha sonora e a rusticidade dos folguedos apresentados, o filme não consegue disfarçar um aspecto naïf em sua fabulação.
>> Pacto da Viola está nos cinemas.

