SONHAR COM LEÕES
A atuação intensa e multifacetada de Denise Fraga é, sem dúvida, um trunfo a favor de Sonhar com Leões, coprodução de Brasil, Portugal e Espanha dirigida pelo greco-lusitano Paolo Marinou-Blanco. Sozinha, porém, a atriz é incapaz de redimir uma tragicomédia que tenta ser atrevida no manejo do tema da eutanásia, mas resulta mais tolinha que trágica ou engraçada.
Denise faz Gilda, uma professora e tradutora brasileira residente em Lisboa. Diagnosticada com câncer terminal, ela se decide pela eutanásia e se inscreve no programa de uma multinacional que promete uma “transição feliz”, sem dor, por algumas centenas de euros. Na verdade, a empresa oferece um workshop de preparação para a eutanásia. Nisso o filme rascunha uma sátira corporativa, valendo-se do contraste entre a morte e a ideia de felicidade.
Quando trata de uma certa ética do suicida, o filme até que me suscitou algumas risadas. Mas de resto ficou no limbo das piadas óbvias e um tanto antigas sobre tentativas frustradas de acabar com a própria vida e sobre o ofício dos agentes funerários. A amizade entre Gilda e seu colega de workshop Amadeu (João Nunes Monteiro), um jovem agente funerário, evolui para um esboço de romance sem nenhuma química ou probabilidade em meio a dúvidas sobre o desejo de morrer ou de seguir vivendo. A quebra frequente da quarta parede por Gilda e as conversas de Amadeu com gente morta tampouco colaboram para superar a banalidade imperante.
O diretor inspirou-se na longa doença do pai, que procurou em vão a oportunidade de uma morte assistida. A esdrúxula inclusão da música Maracangalha, de Dorival Caymmi, seria um aceno à memória do velho, que costumava cantá-la. No filme, quem a canta é Denise Fraga, como parte do seu esforço para dar humanidade a sua personagem. Por obra dela, Sonhar com Leões se torna razoavelmente assistível.
Títulos recentes como O Quarto ao Lado e Uma Bela Vida serviram para mostrar que a eutanásia é um tema difícil de render filmes bons de verdade. Para mim, a melhor referência nesse campo ainda é De Quem é a Vida, Afinal?, de John Badham (1981).
>> Sonhar com Leões está encerrando carreira nos cinemas.

