A PALAVRA
O que são os descaminhos do cinema brasileiro. Guilherme de Almeida Prado, um dos cineastas mais talentosos surgidos nos anos 1980 (Flor do Desejo, Perfume de Gardênia, A Dama do Cine Shangai), encontra-se numa espécie de limbo há mais de 15 anos. Tem pronto um filme ambiciosíssimo, Odradek, que justamente por causa desse superlativo não consegue lançamento. Chega agora às telas um longa anterior, concluído em 2014 por encomenda de igrejas evangélicas.
A Palavra, como convém ao cinema religioso, é um filme de conversão – e isso não chega a ser um spoiler. O roteiro, do próprio Guilherme, traz o Profeta Elias para a realidade atual do Nordeste brasileiro, onde políticos corruptos desviam verbas do combate à seca. Jezebel (Regina Maria Remencius) é uma repórter inescrupulosa, preconceituosa e sem fé enviada para entrevistar e desmascarar um certo Profeta Elias (Tuca Andrada), que anda fazendo milagres pelo sertão.
Jezebel, porém, está a serviço dos interesses do seu editor, Acabe (Luciano Szafir), dono de vinhedos na região. Uma televisão manipuladora substituindo o espetáculo de mamulengos e se contrapondo às “verdades da fé” constitui o antagonista principal – o televilão, digamos assim. Mas haverá ainda um certo deputado Hadade (Oscar Magrini), que faz demagogia citando Karl Marx e defendendo a “integração” do Rio São Francisco.
Difícil saber até onde vai o cumprimento da encomenda e até onde chega a intenção de Guilherme (também responsável pela montagem) de sabotar um projeto tão estapafúrdio. Essa dúvida me assaltava enquanto via o filme. A canastrice ostensiva do elenco, a cafonice dos efeitos visuais, o uso abusivo da música de Saint-Saëns e as incongruências do roteiro destoam completamente do currículo do diretor. O bebê reborn usado nas sequências finais e os batons exagerados são apenas detalhes que se somam ao desacerto geral.
Carl Dreyer estaria rolando no túmulo se soubesse dos ecos pretendidos com sua obra-prima homônima, incluindo o tema da ressurreição. Eu encaro A Palavra como um acidente no percurso de Guilherme de Almeida Prado. Algo assim como o marimbondo que cai numa xícara de café em dado momento do filme. Só um milagre o salvaria.


O pior filme que já assistir. Vi o currículo do diretor e custa acreditar que fez algo do tipo. Se foi uma encomenda, sabotou a encomenda e fez um ” despacho” um tiro no pé. Se tem um nome zelar… ??? E onde ficou um elenco de peso, totalmente perdido, não consegui entender o que é filme foi fazer no cinema.
lamentável! Que se torne um fracasso de bilheteria!
abco