Notas publicadas no Facebook sobre três filmes, que trago aqui para registro no blog.
CARAMELO
O grande sucesso brasileiro na Netflix mundial, é um produto bem acabado. Caramelo abarca diversos filões de apelo popular, como o cachorrinho adorável, a gastronomia, uma doença grave, uma ameaça de despejo, o desabrochar de um romance e muitas mensagens de ternura, amizade e resiliência.
A narrativa é bem ritmada de acordo com o clima de cada momento da trama. Parabéns à montagem de Vicente Kubrusly. A fotografia de Kauê Zilli enche a tela de tons dourados que injetam “calor” nas imagens e rem bonito e interessantemetem à cor do cachorro protagonista. Se é verdade que não foi usada animatrônica nem inteligência artificial na performance de Amendoim, então estamos diante de uma façanha técnica admirável.
O filme de Diego Freitas , produzido por Iafa Britz, comprova que, se bem usados, os clichês podem render uma fruição agradável. Confesso que fiquei surpreso.
SONHOS
A perseguição de Trump aos imigrantes joga uma certa luz de atualidade a Sonhos (Dreams), de Michel Franco. Mas é pouco para alçar esse filme a uma esfera de real importância. No fundo, é mais uma variação da clássica história de amour fou entre classes diferentes. Jessica Chastain é Jennifer McCarthy, uma das diretoras de uma fundação familiar que apoia projetos sociais e culturais nos EUA e no México. Numa de suas viagens além-fronteira, ela se envolveu com um jovem bailarino mexicano (Isaac Hernández, do American Ballet Theatre). Seu projeto era manter o romance à distância da família, mas eis que Fernando imigra ilegalmente para São Francisco e bagunça as intenções dela.
Os muitos números de pas de deux fazem uma espécie de comentário da relação extremamente erótica de Fernando e Jennifer. Não deixa de ser provocante ver Jessica Chastain sussurrar coisas como “vou chupar suas bolas enquanto você mete o dedo no meu cu”. Mas mesmo uma paixão avassaladora como aquela dificilmente levaria a bilionária a se submeter a tudo o que rola no terceiro ato do filme, incluindo um estupro parcialmente consentido.
Sonhos fala dos limites da beneficência e da tolerância aos imigrantes. Deixa pistas também sobre a objetificação sexual de jovens como Fernando. Mas faz tudo isso com uma história manjada, filmada de maneira banal, em que se destacam principalmente a arquitetura das locações e o pas de deux dos corpos de Jessica e Isaac.
THE MASTERMIND
O cool jazz que amacia grande parte das cenas não disfarça a falta de propósito de mais um filme da superestimada Kelly Reichardt. The Mastermind é centrado num personagem abúlico vivido por Josh O’Connor. Ele é um carpinteiro desempregado que resolve furtar quadros de um museu que costuma frequentar. Reúne três amigos para o roubo canhestro e depois tem que se virar com a polícia no seu encalço.
O pintor Arthur Dove (1880-1946) existiu de fato, mas é das poucas coisas que merecem crédito no filme. Kelly abusa do tempo real em cenas desimportantes, enquanto o contexto da Guerra do Vietnã é desperdiçado em referências banais. A época da ação (1970) é sugerida pela presença constante daqueles carros-banheira e por uma fotografia lavada que talvez pretenda evocar a textura dos filmes independentes de então. The Mastermind só confirma a impressão deixada por First Cow. Fabulações bobocas que parte da crítica toma como brilhante novidade.





