Corpos negros em espetáculo

BRASILIANA no canal Curta!

Do Teatro Experimental do Negro (TEN) ao Grupo dos Novos, daí ao Teatro Folclórico Brasileiro, e então ao estrepitoso Brasiliana e por fim ao Brasil Tropical, Joel Zito Araújo nos brinda com uma linha evolutiva das companhias que, entre os anos 1950 e 1970, venderam ao mundo uma certa imagem do Brasil. Haroldo Costa, o idealizador do Brasiliana, conta como criou uma alternativa musical e festiva aos programas mais dramáticos do TEN.

Em sete anos de turnês por diversos continentes, o Brasiliana imantava plateias com danças e encenações de cunho afro-brasileiro. Explorava o atrativo exótico contido em termos como Macumba, Maracatu, Navio Negreiro, Mercado da Bahia, Capoeira, Carnaval… Entre músicos, atores e bailarinos, movimentava cerca de 1100 pessoas, como conta Gino Askanasy, filho do empresário que bancou o grupo.

Brasiliana – O Musical Negro que Apresentou o Brasil ao Mundo resgata imagens vibrantes de espetáculos na Europa e na Ásia. O sucesso da companhia a levou ao cinema, onde contracenou com Sophia Loren na comédia musical “Nos Encontramos no Teatro”, de Mauro Bolognini, primeiro filme da diva italiana (foto abaixo). O contato com celebridades estrangeiras resultou em namoros, como contam as bailarinas Watusi, Carminha e Marinês “Yagnes”. Entre risadas, o bailarino e percussionista Luís Antonio relembra sua fascinação pelos olhos azuis das europeias.

Trata-se de um tema relativamente difícil para a memória afrodescendente. O Movimento Negro condenava aquele tipo de postura, que folclorizava a escravidão e se servia da sensualidade dos corpos negros. Pergunto-me se estava ali o predecessor dos infames “shows de mulatas”. Há mesmo referências à prostituição como decorrência da estada no exterior.

Joel Zito navega com cuidado por essas ondas, demonstrando o êxito do grupo, mas sem fugir dos aspectos controversos. Dá espaço para histórias divertidas do cotidiano das turnês, com seus momentos de carência e abundância. Na pesquisa, embora bastante abrangente, senti falta de abordar os criadores por trás dos espetáculos (roteiristas, coreógrafos, diretores de cena, etc), tratando somente do diretor musical José Prates e de bailarinos e instrumentistas. Com relação à montagem de Daniel Couto, fiquei frustrado por não ter tempo de fruir muito do material de arquivo que passa velozmente pela tela.

>> BRASILIANA estreia no canal Curta! dia 5/11 às 21h30, com reprises 6/11 à 1h20 e às 15h20; 7/11 às 09h20; 8/11 às 15h30; e 9/11 às 21h30. 

3 comentários sobre “Corpos negros em espetáculo

  1. Que alegria receber uma crítica sua, Carmattos! Com relação ao material de arquivo, justificando meu lado, rs…, infelizmente o filme sofre de um mal que padece os filmes de baixo orçamento que lidam com recursos: os preços absurdos de licenciamento. Muito feliz em ver nosso filme analisado por aqui. Grande abraço do amigo de Juiz de Fora!

    Daniel Couto

    • Salve, meu caro! Acho que o filme está bem servido de arquivos. Às vezes até servido demais, pois muita coisa passa pela tela sem que a gente tenha tempo de assimilar. De resto, é um belo trabalho. Grande abraço.

Deixe um comentário