EDDINGTON
O estado do Novo México, com sua diversidade étnica, ainda conserva características adequadas a ambientar westerns contemporâneos. Eddington, de Ari Aster, é um deles. Nasce, no início da pandemia de Covid-19, da rivalidade entre o xerife negacionista all-american da cidade-título e o prefeito de origem mexicana que defende os cuidados com a saúde e quer trazer novas tecnologias para o lugar.
O asmático xerife Joe Cross (Joaquin Phoenix) é o típico ogro de extrema-direita, cujos argumentos contra as máscaras, a favor da liberdade individual e do armamento da população lembram muito o que nosso então presidente vomitava em 2020. Além do próprio Trump, é claro. “Não tem Covid em Eddington”, decreta. Sua irritação é redobrada pelos protestos do movimento Black Lives Matter que se seguiram ao assassinato de George Floyd.
Essa equação política se sustenta provisoriamente, mesmo no contexto de um roteiro confuso, repleto de referências cifradas e subtramas desimportantes. Basta dizer que a atual esposa de Joe, papel ingrato de Emma Stone, é uma vítima de transtorno mental e teve um laço inconveniente com o prefeito no passado.
Joe se candidata à prefeitura contra a reeleição do atual prefeito (Pedro Pascal). À medida que a disputa eleitoral avança e a contenda pessoal dos dois adversários ganha proporções de confronto direto, o filme perde completamente as estribeiras e se torna uma grande bagunça narrativa. Jovens wokes despejam sua culpa branca em manifestações, um louco de aldeia entra na mira do xerife e este se revela um monstro puro e simples.
O que se segue é uma patuscada de violência, em que a volúpia dos tiros chega a um paroxismo gratuito, pois desprovido de amparo dramatúrgico e até de lógica espacial. Mais desastroso ainda é o epílogo supostamente irônico, que pretende denunciar o oportunismo da política mas só enfatiza a falta de rumo desse filme indigesto.
>> Eddington está nos cinemas.


