BUGONIA
Se você também acredita que os produtos químicos podem acabar com a vida na Terra, então está na mesma vibe que Bugonia. Mas os primos maluquetes Teddy (Jesse Plemons) e Don (Aidan Delbis) pensam muito mais longe do que isso. Eles acham que a CEO de uma grande fabricante de medicamentos experimentais é uma alienígena infiltrada em nosso planeta para erradicar a vida humana.
Teddy a responsabiliza pelo coma em que se encontra sua mãe e pela redução de abelhas no mundo, a começar pela sua apicultura particular. Assim sendo, planeja o sequestro de Michelle (Emma Stone) para que ela o conduza à nave-mãe dos andromedanos. Com isso espera salvar o futuro da humanidade.
Teddy e Don são dois loosers, pobres criaturas que se percebem como seres em extinção – tal como as abelhas, que, segundo o mito grego bugônia, poderiam nascer de uma carcaça de boi apodrecida. As metáforas com animais, portanto, continuam no menu de Yorgos Lanthimos.
Em Bugonia, o diretor conjuga várias de suas fixações. A relação entre Teddy e seu primo apalermado tem cores de comédia idiota. A hipótese paranoica de Teddy, cultivada numa câmera de eco formada por baboseiras da internet e teorias de conspiração interplanetária, dá o habitual toque de absurdo cômico. A história de gente empenhada em melhorar o mundo e a espécie humana de maneira bizarra também já apareceu em filmes como Pobres Criaturas e A Lagosta. E citemos ainda a fantasia crítica sobre empreendimentos comerciais disfarçada de ficção científica, presente em Alpes.
A conjugação desses elementos díspares se dá muito bem se aceitarmos as regras do jogo de Lanthimos. Em seu cativeiro, a gélida, demagógica e fisicamente combativa Michelle vai travar um duelo de inteligência com Teddy, sob os olhares mudos e atarantados de Don. Um duelo pontuado por cenas de tortura e violência que colocam o eventual humor em xeque e a tolerância do espectador à prova.
Num filme de câmara, com apenas três personagens que importam, as ótimas interpretações do trio são fundamentais para sustentarem o embate de ideias tortas e circunvoluções pseudo-teóricas. Como ameaça de quebra desse hui-clos, destacam-se as intervenções de J. Carmen Galindez Barrera no papel de um guardinha amigo de Teddy que provoca bons momentos de suspense.
Nada, porém, nos prepara para o desfecho esdrúxulo, apocalíptico e macabro do filme. Como lhe é de praxe, Lanthimos joga para o alto as expectativas realistas em troca do desconcerto e de uma extravagância quase pueril.
>> Bugonia está nos cinemas.

