Irmãs opostas

HARD TRUTHS, candidato à minha lista de filmes favoritos de 2025 ainda não lançados no Brasil

Creio que poucas vezes o maniqueísmo foi tão assumido no cinema britânico quanto em Hard Truths. Mike Leigh é de uma coragem fenomenal para dissecar sentimentos extremos e desconcertantemente humanos, como no clássico Segredos e Mentiras, em A Vida é Doce, Simplesmente Feliz ou Agora ou Nunca. Todos ambientados na classe trabalhadora.

Em Hard Truths, o mundo parece se dividir entre os temperamentos opostos de duas irmãs. Pansy (Marianne Jean-Baptiste, que fazia a filha adotiva em busca da mãe biológica em Segredos e Mentiras) é uma bomba de depressão e exasperação desde o momento de acordar. Está de mal com o mundo, aí incluídos o marido bombeiro hidráulico e o filho mergulhado na apatia. Pansy demole qualquer tentativa de diálogo, sempre pronta a esbravejar contra tudo e todos.

Sua irmã Chantelle (Michele Austin) é em tudo o oposto. Cabeleireira simpática às confidências das clientes, não tem marido, mas vive em alegre confraternização com as duas filhas e tem uma paciência amorosa para com as diatribes da irmã.

São dois pólos muito claramente marcados, a ponto de quase parecer esquemáticos. Mike Leigh não poupa tinta nas caracterizações antípodas, especialmente de Pansy, incapaz de baixar sua guarda por um momento sequer. Ao mesmo tempo, ela vai semeando expectativas a respeito das razões de sua amargura, que só serão mais ou menos clarificadas perto do final.

É quando se evidencia um esboço de ternura entre as personagens, e o filme torna um pouco mais complexo o que parecia ser uma simples dualidade. A direção sempre finamente precisa de Leigh pontua cada sutileza de sentimento, entre a dura resignação do marido de Pansy, a abulia do jovem Moses e a positividade de Chantelle e suas filhas. A atuação de Marianne Jean-Baptiste é extraordinária, secundada por todo o reduzido elenco numa encenação realista e repleta de minúcias emocionais.

>> Hard Truths não tem previsão de estreia no Brasil.

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