No site Metacritic, que compila as avaliações dos principais críticos americanos, Bastardos Inglórios está com a média 69, bastante baixa para filmes de primeira linha. As opiniões que tenho lido e ouvido por aqui também são divididas. Lembram uma cena do filme, tipicamente tarantinesca: um oficial alemão e um dos “bastardos” mantêm pistolas apontadas para os respectivos testículos debaixo da mesa do bar. Para uns, é o melhor filme de Tarantino, uma aula de cinema e de história do cinema. Para outros, é o mais chato e gratuito superespetáculo da temporada.
Embora admire o estilo e a non-chalance do diretor para filmar o que lhe vier na cabeça, minha pistola está na mão da segunda turma.
Tarantino filma magnificamente – e isso fica claro seja numa mera conversa de dois personagens, seja numa cena estrepitosa como o incêndio na pré-estreia do filme nazista. O problema é a ausência de maior sentido para a fantasia multigêneros que ele tirou da cachola em Bastardos Inglórios. Tarantino me parece um garoto superdotado que, depois de fazer algumas obras de arte, cresceu e se pôs a atirar os brinquedos para o alto.
Não é o caso de cobrar qualidades caretas como verossimilhança ou coerência histórica de um filme que se arroga o descompromisso de um gibi barato, uma pulp fiction. O que importa é a festa de referências que vão de John Ford a Sergio Leone, Mel Brooks, o próprio Tarantino e mais algumas dezenas de diretores, atores, filmes e gêneros. O que interessa é driblar a História com golpes de cinema, fornecendo a catarse suprema de ver a cúpula nazista explodir por inteiro. Mas Tarantino também sabe frustrar as expectativas catárticas, como demonstram as mortes a granel nos dois lados e o desfecho quase, digamos, carinhoso dado a um dos piores vilões.
O filme tem a exuberância estilística habitual e algumas ironias de tirar o chapéu. O clímax do romance entre a judia Shosanna e o herói nazi Frederick Zoller, na cabine de projeção, é um primor de construção dramatúrgica. Mas esses momentos grandiosos são relativamente raros num filme que se arrasta através de longas conversações e clichês nem sempre bafejados pela graça paródica. Minha sensação foi de assistir apenas à demorada e barroca preparação de uma penúltima sequência memorável.
Ao adulto presunçoso e perdulário, prefiro o menino brincalhão que nos brindou com filmes substantivos em sua irreverência, como Cães de Aluguel, Pulp Fiction e Jackie Brown.
Posso ate concordar em algumas parte, mas meus comentários sobre esse filme são suspeitos, pois simplesmente adoro o trabalho de Tarantino. E nesse filme que para mim ele dirigiu com habilidade mestre. E, porque não, até um pouco de sarcasmo, entre um tema que já foi extremamente explorado ( judeus e nazismo) e nos proporciona essa obra prima. Obra prima? Sim meus amigos. Algo que é essencial nos filmes e nesse ponto o diretor arrasa são os diálogos, os extensos e, em minha opiniao, MARAVILHOSOS diálogos que se encontram ao longo do filme. Nesse ponto um ator merece ser citado, exaltado e ovacionado, o ator Christoph Waltz. O ator é perfeito. Sua atuação “polingue!” é muito impressionante. Waltz cativa com sua simpatia e maestria do seu discursar carismático e em segundos pode se transformar num ser imparcial, emanando fúria e terror. A melhor arma nazista do filme.
Elenco. Além de Waltz, existem outros excelentes, como o excelente ator alemão Daniel Brühl. Aconselho a procurarem a filmografia de Brühl e da uma conferida. Muito boa. E somente Tarantino para deixar Brad Pitt e Diane Krueger ( A lenda do tesouro perdido 1 e 2, super sem graça) e Mike Myers como verdadeiros atores. O filme emociona, tem suspense e momentos extremamente cômicos. Vale cada segundo.
Filipe Santos
O maior problema deste Taranatino adolescente retardatário e patético é que quer ser, acima de tudo, um filme essencialmente sobre o cinema: mas como coisa de cinéfilo que coloca a “arte pela arte” a qualquer preço ! E tudo que é “a qualquer preço” cai na conta da hybris dos gregos – a arrogância, a desmesura justamente punida pelos deuses. Curiosamente no Festival do Rio houve um filme com problema semelhante de cinefilia excessiva para o que queria demonstrar, mas ao contrário desta “pornografia ética” tarantinesca, “Vincere” do Marco Bellochio, com todos os seus problemas é um filme íntegro que não descamba na pornografia ética de um Hitler de opereta dirigida por Mel Brooks mesclado à “seriedade” (?) de cenas de barbárie de todos os lados.