
Besouro vem aí. Posso prever que não será unanimidade entre os críticos. Não temos uma cultura de filmes do gênero aventura épico-mítico-histórica. Tendemos a rejeitar espetáculos que se pretendem grandiosos, com técnicas importadas e sem justificativas sociológicas eloquentes. Já ouvi comparações irônicas como “Quilombo 2 – A Missão”.
Mas Besouro corre em pista bem diferente. É aventura destinada a um público diversificado, que inclui o infanto-juvenil. A formação do mítico capoeirista baiano é contada como uma história de mestre e discípulo na linha Karatê Kid. O surgimento do herói se dá à base de culpa por um descuido na proteção ao mestre. Seus poderes sobrenaturais vêm do encontro com um Exu que reúne traços de guerreiros africanos, orientais e medievais. A rivalidade entre colonizadores brancos e lavradores e serviçais negros tem o sabor um tanto esquecido dos nordesterns. Já as lutas de Besouro ganham o caráter vertiginoso de O Tigre e o Dragão, tendo bananeiras no lugar dos bambuzais de Ang Lee.
Ungido por Exu, Besouro é capaz de incorporar-se em outras pessoas e transmitir sua força. Mas tem um ponto fraco, a sua kryptonita. Esse talvez seja o primeiro superherói afro-brasileiro explícito do cinema, o oposto da sátira subdesenvolvida encarnada pelo Superoutro de Edgar Navarro. Aqui a técnica aspira o top de linha da aventura contemporânea, com imagens de tirar o fôlego. É admirável como o filme integra a alta tecnologia com elementos da natureza tropical. Basta ver a importância dos rios, ventos, fogo, animais e paisagens brasileiros no protagonismo da trama.
Não fosse o roteiro fragmentado demais, eu teria sido mais incisivo na defesa do filme na comissão de seleção do Oscar. João Daniel Tikhomiroff quer dialogar com o cinema de gênero internacional sem deixar de fazer um filme mestiço bem brasileiro. Besouro deve ser prestigiado não apenas por ser nosso, mas por ser um belo e luxuriante espetáculo popular.
Não foi tão ruim, eu não esperava que este fosse um filme que agradasse aos críticos, filmes deste gênero geralmente só agrada quem gosta, e estes são muitos, caso o contrário não haveria tanta gente lucrando com este gênero mesmo ele tão desdenhado pela critica, produções (reconhecidas como ”O tigre e o Dragão” são exceções) mas esperava ver tantas falhas.
Acho que o grande erro foi se preocupar tanto com os efeitos e não com o roteiro, não vi muito sentido em contratar um chinês para coreografar um filme de capoeira, ela deveria ser feita por capoeiristas e cinéfilos aficionados por filmes de ação e artes marcias, precisávamos, é claro, de quem soubesse operar aqueles cabos e gruas, que talvez pudessem ser encontrados aqui mesmo, dublês brasileiros fazem trabalhos até para o exterior.
Contudo, o filme não foi tão ruim, mas com algumas mudanças simples seria muito melhor, mas claro que não agradaria a todos (isso é impossível), sei que não tem muito sentido dizer o que eu gostaria de ver diferente, mas queria expressar minha opinião.
Em primeiro lugar tinham que sumir com aquelas “legendas narradas”, (parece complexo de filme estrangeiro!) bastava uma legenda (ou narração) dizendo o local e a época da história, mas o problema não são apenas as legendas, e sim a forma como a história é contada. Filmes devem ser feitos de imagens, não de legendas.
Não era necessário dizer que a capoeira e as crenças eram perseguidas e que os negros ainda eram tratados como escravos, isso seria mostrado ao longo do filme. Era importante porém, mostrar uma cena de pai Alípio orientando seu povo, e como isso perturbava o coronel, isso funcionaria melhor para dar sentido ao filme do que uma legenda.
Mais mudanças seriam necessárias só no final, em minha opinião, a pior cena do filme é aquela onde a tela fica preta e a “legenda narrada” diz “A luta de besouro deu resultado”, que resultado? O único resultado que o filme mostra é a morte dele, isso quase destruiu o filme, e as legendas seguem dizendo a data em que a capoeira foi liberada e quando foi elevada a “Patrimônio cultural brasileiro”, tudo muito bom pra capoeira, mas no filme ficou meio bobo.
No final devia haver uma cena que demonstrasse que a luta de besouro fortaleceu seu povo, os mostrando resistindo há alguma injustiça, ressaltando sua força e sua superioridade numérica. Seria uma cena rápida, e nem precisava de dialogo, uma legenda poderia dizer “A luta de besouro fortaleceu seu povo”. Daí filme podia terminar mostrando antigas manchetes de jornais (sem legendar o texto das manchetes) mostrando a evolução da capoeira, menções aos grandes mestres como Bimba e Pastinha, ao dia em que a capoeira foi liberada e por fim o dia em foi elevada a Patrimônio cultural brasileiro. Durante as imagens, uma legenda podia dizer simplesmente que “Um dia capoeira seria liberada e hoje é considerada Patrimônio cultural brasileiro”. Com três cenas a mais e muitas legendas a menos filme faria mais sentido.
Muita gente não gostou ainda morte de besouro e ainda do coronel não morrer, talvez fosse melhor que besouro o matasse quando incorporou Dinorá (ela poderia correr para mais longe da casa pra chorar, dando a entender que ninguém viu), mas daí o coronel teria que ter tido um filho no filme, que estaria no cavalo encarando o “besourinho”, naquela cena. Talvez isso já seja muito exagero.
Este filme, abre um campo imenso de possibilidades par o cinema brasileiro, espero que apesar de tudo, ele seja encarado como “apenas o começo”, e não o único.
Salve, Eros. Acho que houve muita má vontade em relação ao Besouro. Bom te ver por aqui. Abração!
Carlinhos
Duvido que tenha sido proposital, mas a foto que ilustra a crítica de Besouro no Globo– que é a mesma do seu comentário — foi publicada com o laço que faz o protagonista voar. ou seja dá um ar mambembe ao filme.
Fico impressionado com o seu senso prático, com sua capacidade de manter-se plugado, a mil. eu já num consigo me manter o olhar focado num cágado.
beijos na rosane, abraços para tu.
Gostei do seu blog. Parabéns! Vou assistir o filme.
Pedro Ewbank
http://olhosdearte.wordpress.com
Bem-vindo, Pedro. Também dei uma olhada no seu blog. Estou em dúvida se vejo o filme do MJ no cinema ou espero o DVD.
Quer uma sugestão? Espere pelo DVD.