Quando Ahmadinejad e o clero conservador sufocaram com mão de ferro a rebelião dos jovens verdes contra as fraudes das eleições de 2009, a única fonte de informação confiável eram os blogs, as redes sociais e as imagens de vídeo e celulares contrabandeadas através da internet. Na época, antes que as Google Revolutions derrubassem as ditaduras da Tunísia e do Egito, aquele fluxo caseiro não foi suficiente para deter o escândalo eleitoral e o massacre da oposição em Teerã.
É com esse material que The Green Wave constrói um poderoso libelo sobre o sonho interrompido da juventude e dos progressistas iranianos. Relatos de 15 blogs, além de mensagens do Twitter e do Facebook, inspiraram uma narrativa adaptada à animação. O efeito é muito poderoso, ficando a meio caminho entre o documento sonoro e a reencenação visual. Ao contrário do premiado Valsa com Bashir, as cenas animadas não predominam no filme, mas apenas fornecem um pathos dramático ao que é descrito em palavras, combinando-se com materiais filmados na rua e depoimentos de ativistas, jornalistas e reformistas.
Diretor, equipe e entrevistados são iranianos expatriados, sobretudo na Alemanha, onde o filme foi produzido. Todos eles sabem que, depois desse doc, tão cedo não poderão voltar ao Irã. Mas o tom das palavras que ouvimos no filme não é só de revolta, terror e desânimo com o esmagamento da Onda Verde. Abatida mas persistente, resta uma voz de esperança pela “reconstrução da nossa nação”.
Emocionante como peça histórica, o filme de Ali Samadi Ahadi testemunha também a importância que os blogs e as redes sociais vão assumindo na realização de documentários. Eles “aquecem” os dossiês colocando a experiência humana à frente das visões profissionais do jornalismo.
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