Bollywood talvez nunca tenha chegado tão longe quanto nas cenas de abertura de O Malandro Indiano (Tees Maar Khan). O personagem central é ainda um feto no ventre da mãe quando começa sua primeira coreografia. E sua primeira cena de luta! Daí em diante, como sempre, pode-se esperar tudo de mais essa mistura de ação, comédia e musical típica dos estúdios de Mumbai. O diferencial aqui é que não há romance. A protagonista feminina é uma versão satírica das heroínas bem maquiadas e de importância apenas decorativa nas tramas do gênero.
Aliás, esse terceiro trabalho de direção da veterana coreógrafa Farah Khan é, mais que tudo, uma sátira ao cinema comercial indiano. O ator desesperado por ganhar um Oscar, as referências a Quem Quer Ser um Milionário (a Índia pobre faz sucesso) e mais uma série de piadas com filmes e figuras carimbadas de Bollywood formam uma cobertura de chantilly jocoso sobre o bolo de muitas camadas que é o enredo. Nele, um supervigarista na linha de Peter Sellers cria uma falsa filmagem para enganar toda uma aldeia e engajá-la no grande roubo de um trem. A brincadeira remonta até aos filmes épicos de conteúdo anticolonialista, o que não deixa de ter sua graça.
De resto, é aquela histeria ininterrupta, as danças afetamínicas e um aparato de produção vistoso para dar vazão à hindichanchada habitual. Quem se dispuser a relevar os valores preconceituosos e uma série de gags vulgares pode encontrar momentos de legítima diversão popular.