Tillman, um Herói sob Medida

Patt Tillman tinha tudo para ser um all american hero: rapagão forte e saudável, queixo quadrado, estrela do futebol americano, que interrompeu a carreira no apogeu para se alistar na guerra do Iraque. De fato, quando ele morreu na aridez de um cânion iraquiano, o exército tratou de colocá-lo imediatamente no panteão. O documentário de Amir Bar-Lev, entre os mais festejados da temporada americana de 2010, mostra como a família de Patt reagiu contra o uso do rapaz na glorificação oficial da guerra.

O pressuposto dramático é o oposto do que se vê normalmente, que são famílias faturando na heroicização de seus mortos. Os Tillman começaram sua cruzada ao descobrir que, ao contrário do que fora inicialmente divulgado, Patt havia sido morto por fogo amigo, provavelmente fruto da ansiedade e da excitação causadas pela guerra entre os jovens soldados. Depois, ao perceber que as honras oficiais contrariavam os desejos e posturas de Patt. Aos poucos, o alvo passou a ser a cadeia de comando do exército e do governo Bush.

Amir Bar-Lev (My Kid Could Paint Like That) fez um trabalho exemplar de levantamento e reconstituição jornalística dos fatos e da batalha judicial dos Tillman. Assim conseguiu desdobrar um caso aparentemente isolado para dimensionar as contradições e a desfaçatez de um dos piores capítulos da história americana recente. Patt Tillman estava fadado, sim, a ser uma espécie de herói, mas não exatamente aquele que os EUA gostariam de levar para seus livros escolares.

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