Por motivos de agenda, só este ano pude comparecer com alguma regularidade à Semana dos Realizadores, o evento criado por Eduardo Valente e Lis Kogan para cumprir, em relação ao Festival do Rio, função semelhante à da Quinzena dos Realizadores com o Festival de Cannes. Com a diferença de que a Quinzena sempre foi uma sessão paralela e simultânea a Cannes, enquanto a Semana brasileira é evento completamente à parte.
Este ano pude assistir a vários filmes e até mediar um dos debates programados pela Semana. Não vou falar aqui dos filmes, sobre os quais postei pequenos comentários nas redes sociais e ainda pretendo escrever no futuro. Quero apenas deixar algumas impressões gerais, na forma de pontos que me agradam e outros que me desagradam na Semana.
Gosto:
- A chance de ver esses filmes mais comprometidos com uma proposta de invenção em condições ideais, num bom cinema, com imagem e som da melhor qualidade possível.
- A plateia respeitosa, silenciosa, interessada de verdade no que vê. Sem pipocas, saquinhos de bala e quase sem a praga da manipulação de celulares. A sensação é de paraíso cinéfilo.
- A fluência, capacidade de memorização e simpatia de Lis Kogan na apresentação das sessões.
- As menções e agradecimentos ao projecionista, elo normalmente esquecido na cadeia de uma boa exibição.
- A evidência de um caráter comunitário nesse novo cinema de invenção, o que se evidencia não só nas relações interpessoais ao vivo, como nos créditos dos filmes. Este ano, por exemplo, destacaram-se os nomes de Pedro Urano (envolvido em 5 filmes), Ricardo Pretti (4 filmes), Luiz Pretti e Bernardo Uzeda (3) e vários outros em mais de um filme.
Não gosto:
- As autorreferências elogiosas de vários cineastas e a empáfia no discurso de alguns ao afirmar que só um tipo de cinema (o que eles fazem) importa, e o resto é lixo.
- O lado mais discutível do “comunitário”, que é a sensação de patota. Daí a troca de elogios, abraços e uma visão pouco crítica dos filmes. Ou seja, estamos numa espécie de gueto.
- O ciclo de debates relegado às tardes no Forum de Ciência e Cultura da UFRJ. Os encontros foram ótimos, mas o público não foi. O gueto, de novo.
>>> Por fim, lembro que os seis filmes da competição e mais os de abertura e encerramento serão reprisados no Instituto Moreira Salles, no sábado e domingo próximos.
grande Carlinhos,
sem discordar da crítica com relação à eventual empáfia, lembrei de um trechinho do bom e velho Paulo Emilio (tantas vezes citados pelos nossos amigos e mestres) ao observar esse tipo de atitude em Humberto Mauro, Mário Peixoto e Lima Barreto.
Abrindo aspas: “A mania de grandeza não é neles traço negativo de caráter, e sim arma para combater a frustração a que se vêem até hoje condenados todos os artistas e artesãos do cinema brasileiro. A sua megalomania é na verdade grito de protesto”.
Não que esse tipo de protesto resolva alguma coisa, claro.
#occupyAncine
abração!
Não consigo ver frustração nesses casos atuais, Dani, mas somente intolerância com o mainstream e tudo o que eventualmente se aproxime dele.
Q delícia ler suas apreciações, Carlinhos ! Iluminadoras !
Mais alegria singular é ter vc como leitor, expediente q me enche de orgulho e responsabilidade maior. Afinal, ñ é todo dia q se pode ter um leitor do seu quilate, visitando as entrelinhas do q escrevemos.
Gratíssima pela sua atenção e amizade.
Bjo no coração…