Relembrando o que escrevi sobre Um Time Show de Bola à época do Festival do Rio:
Que os argentinos façam o mais massivo filme latino-americano passado no âmbito do futebol, idealizem uma equipe imbatível e ainda construam na ficção “o maior estádio do mundo” é coisa demais para o torcedor brasileiro aguentar. Mas quem fizer ouvidos moucos a essas provocações não vai deixar de curtir Um Time Show de Bola. O mais caro blockbuster do cinema hermano aspira a um lugar entre os grandes da animação contemporânea. A história assemelhada à de Toy Story e o nível de ponta da animação 3D praticamente equiparam Metegol ao melhor da produção americana.
A intenção de criar personagens universalmente carismáticos com traços fortes do jeito argentino de ser é uma ousadia afinal bem realizada. As citações de clássicos do cinema ajudam a criar um repertório familiar a todos, haja vista que o filme se destina a um público de todas as idades, embora talvez mais especialmente masculino. Juan José Campanella abusa um pouco do seu típico pensamento desejoso, fazendo o impossível acontecer na história por força das virtudes pessoais e da consciência humanista em relação ao progresso e à megalomania. É impossível não ver o vilão superjogador como uma crítica à mania de grandeza argentina.
A direção é excessiva também na invenção de truques visuais e narrativos, que acabam cansando um pouco. Mas a fluidez dos movimentos, a fantástica expressividade dos olhos e lábios dos personagens, a direção de arte impecável e o uso funcional do 3D sustentam um interesse permanente. O fato de os jogadores de totó terem a mesma cara, diferenciados apenas pelo cabelo e o comportamento, é mais um desafio vencido galhardamente.