Enfim, o filme do vôlei

Filmes sobre esporte podem não ser uma grande vocação do cinema brasileiro, mas não deixam de marcar presença regular, sobretudo em anos recentes. Futebol, surfe, iatismo, alpinismo, boxe e até skate ladeira abaixo já ganharam longas-metragens a respeito. Entre as modalidades que mais glória deram ao Brasil nos últimos tempos faltava o vôlei. A lacuna foi preenchida por Ouro, Suor e Lágrimas, de Helena Sroulevich.

O filme faz a crônica de um contraponto dramático. Entre 2001 e 2010, a seleção brasileira de voleibol masculino foi campeã mundial oito vezes e venceu 16 dos 20 torneios disputados, tornando-se a equipe mais forte do mundo. No mesmo período, a seleção feminina, apesar de muitas vitórias, ganhou fama de “amarelona” por sucessivas derrotas em finais de campeonatos mundiais. A euforia de uns e a tristeza de outras pontua o filme, até uma relativa inversão em 2012. De qualquer forma, a parte do leão é dos meninos, embalados quase sempre em música épica e flashes de simpatia.

Alguns problemas de narrativa embarreiram um pouco os saques de Helena Sroulevich. O filme parte de uma promessa de cronologia rumo às Olimpíadas de 2012, mas isso se perde no caminho – até porque a equipe de filmagem acabou não tendo acesso os jogos de Londres, cobertos com fotografias numa espécie de anticlímax. Quem não domina a história recente do vôlei terá certa dificuldade em acompanhar a evolução dos fatos e mesmo alguns episódios envolvendo jogadores e técnicos. Algumas falas atravancadas de Bernardinho, por exemplo, precisariam de legendas para serem plenamente compreendidas.

Afora isso, Ouro, Suor e Lágrimas presta um bom serviço à memória do vôlei. Condensa lances decisivos de partidas decisivas e coloca o espectador em relativa intimidade com os jogadores e jogadoras em viagens e no recesso do Centro de Desenvolvimento do Voleibol, em Saquarema. Resulta um perfil de grupo bastante coeso, que alterna a zoação ingênua com os arroubos de emoção e o lamento pelos longos períodos de separação da família. Perfil bem brasileiro, por sinal, em que certas virtudes olímpicas não foram afetadas pelo estrelismo e o novo-richismo que vemos no futebol.

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