O projeto Vídeo nas Aldeias tem sua loja na internet, onde se pode alugar (assistir por uma semana) ou comprar (assistir quando quiser) 65 filmes produzidos pela ONG de Vincent Carelli. O acervo é inestimável.
Nos últimos 34 anos, o VnA vem levantando a situação de diversas tribos indígenas, estimulando o seu conhecimento recíproco, formando a primeira geração de cineastas indígenas brasileiros e divulgando sua produção nacional e internacionalmente. O contato inter-tribal, mediado pelo vídeo, tem sido uma ferramenta importante na preservação da consciência e da cultura indígenas, ao comprovar que uma determinada tribo não está sozinha no mundo, ilhada pela sociedade não-índia.
O projeto já forjou a criação de documentários clássicos que extrapolam o caráter etnográfico. Entre eles estão longas-metragens lançados em cinemas e premiados em festivais.
Destaco a seguir algumas produções que considero imperdíveis:
Corumbiara
Uma contundente e minuciosa comprovação do massacre de índios por fazendeiros na gleba Corumbiara, em Rondônia. O longa ainda sintetiza diversos anos do trabalho de Vincent Carelli.
Martírio
Assumindo-se como narrador-historiador, Carelli retraça as origens do cerco físico e cultural dos Guarani-Kaiowá desde o pós-Guerra do Paraguai. Para além do dilacerante painel que descreve, sem omitir a complexidade do assunto, Martírio tem a beleza de um cinema da solidariedade.
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As Hiper Mulheres
A criação compartilhada pelo antropólogo Carlos Fausto, o cineasta não-índio Leonardo Sette e o diretor índio Takumã Kuikuro troca o olhar etnográfico “de fora” por uma expressão mais autóctone para contar uma história de ficção que soa como documentário. Índias de várias tribos se reunem numa aldeia Kuikuro do Xingu para festejar o ritual feminino do Jamurikumalu. É ocasião para a passagem da tradição dos cantos para as meninas e também para as habituais brincadeiras sacanas que caracterizam a versão indígena da “guerra” sexual.
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O Mestre e o Divino
O filme lança uma camada a mais de observação e complexidade ao modelo de trabalho da Vídeo nas Aldeias. Temos aqui um realizador branco (Tiago Campos) que filma a interação entre um cineasta xavante (Divino Tserewahú) e um missionário alemão que vive e filma entre os índios há mais de 50 anos (Adalbert “O Mestre” Heide). O projeto lança a todos numa trama de evocações históricas, ambiguidades da relação entre índios e catequistas, discussões sobre representação cinematográfica e vínculos pessoais que desafiam estereótipos comuns da convivência interétnica.
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O Espírito da TV
As emoções e reflexões dos índios Waiãpi ao se verem pela primeira vez na televisão.
Yãkwá, o Banquete dos Espíritos
As longas festas anuais dos Enauêne Nauê em reverência aos seus antepassados.
A Arca dos Zo’é
Os Waiãpi são apresentados aos Zo’é através de um vídeo e retribuem com uma visita pessoal, câmera em punho.
Eu Já Fui Seu Irmão
A viagem de um líder Parakatêjê a uma aldeia Krahô que fala a sua mesma língua.
Imbé Gikegü – Cheiro de Pequi
Filmado por índios kuikuro, diverte e instrui com sua história de erotismo entre índios.
Wapté Mnhõnõ – Iniciação do Jovem Xavante
Um dos melhores exemplos de produção autóctone indígena, com a revelação de situações peculiares.
Marangmotxingmo Mïrang, das Crianças Ikpeng para o Mundo,
Outra criação indígena em que dois meninos e duas meninas (já casadas e com filhos!) apresentam os hábitos, comidas e brincadeiras de sua aldeia a um suposto espectador de outra tribo.
De Volta à Terra Boa
Os índios Panará empregam seu idioma, ritmo de fala e gestual ao relato de sua saga entre os anos 1970 e 90. O trabalho colaborativo se manifesta numa espécie de campo e contracampo entre imagens de dois mundos e duas épocas. Os índios rememoram e as imagens de arquivo vão pontuando as reminiscências. Os índios se expressam dentro da cena, enquanto Mari Corrêa e Vincent Carelli constroem o arcabouço do filme.
Cineastas Indígenas
A partir de um encontro de realizadores indígenas na sede do Vídeo nas Aldeias, em Olinda, o filme traça um perfil dos seus principais cineastas e sua atuação nas aldeias.
essencial!