O CASO ESCOLA BASE
Oito meses atrás comentei aqui o documentário Escola Base: Um Repórter Enfrenta o Passado, de Caio Cavecchini. Neste fim de semana abri uma exceção na minha rotina para ver uma série, O Caso Escola Base, de Paulo Henrique Fontenelle, também disponível na Globoplay. O falso escândalo que atingiu os proprietários de uma pequena escola de São Paulo, acusados de promover abusos sexuais e outros crimes contra crianças, foi um dos mais clamorosos erros policiais e jornalísticos da história contemporânea.
A série de Fontenelle esquadrinha o caso sob vários ângulos, contando com depoimentos dos que foram acusados na época e de vários jornalistas que tiveram alguma participação no caso. Inclusive daqueles, como Heródoto Barbeiro, Florestan Fernandes Jr. e Luís Nassif, que não embarcaram na histeria midiática e na investigação policial irresponsável.
Uma linguagem dinâmica e atraente minimiza os efeitos da reiteração constante que caracteriza essas obras seriais. Outra qualidade da série é trazer fatos laterais que ajudam a compreender – ou tornar ainda mais nebuloso – o contexto daquele episódio. O estadunidense que possuía um acervo de fotos de crianças nuas divertindo-se em sua casa, por exemplo, ou o casal tomado como cúmplice dos donos da escola.
O que parece não deixar dúvidas é que pessoas tiveram suas vidas arruinadas injustamente e a imprensa saiu com a reputação seriamente chamuscada. Luís Nassif tem a perspicácia de lembrar a Lava Jato como mais um evento que envergonha o jornalismo de manada.
A ESPERA DE LIZ
O primeiro longa de Bruno Torres foi lançado em plena pandemia e teve poucas chances no cinema. Está agora nas plataformas Now/ClaroTV+, Prime Video, AppleTV e Microsoft.
Filmado com grande apuro de imagem e som, em locações belíssimas do sul do Brasil e da Venezuela, A ESPERA DE LIZ é um drama introspectivo centrado em três personagens. Liz (Simone Iliescu, corroteirista com o diretor) está deprimida pelo desaparecimento de seu companheiro Miguel. Sua irmã mais nova (Rosane Mulholland) também sofre em silêncio sem sabermos por quê. Mais tarde saberemos que também Miguel (Bruno Torres) padece em seu auto-exílio.
Pela cartilha do melodrama, não é difícil prever o que acontece entre os três. Mas o filme, em seu ritmo compassado, com muitos silêncios, acaba por aliciar o espectador. Para isso contribuem a sobriedade das atuações e uma direção de arte baseada num código de cores bem explícito: cinza e preto para a depressão, cores vivas para a evasão, branco para o apaziguamento.

