Uma casa no cinema iraniano

Eu no Museu do Cinema (Teerã)

Ontem (12/9) o Irã comemorou o Dia Nacional do Cinema em reconhecimento ao impacto causado pelos filmes do país após a Revolução Islâmica. Para marcar a data, publico minhas impressões sobre Silent House, filme exibido no festival É Tudo Verdade deste ano.

O documentário Silent House, dos irmãos Farnaz e Mohammadreza Jurabchian, gira em torno da casa da sua família, uma mansão comprada pelo avô a Esmat, mulher do xá Reza Pahlevi. Havia uma tradição na família de fazer filmagens domésticas, o que Farnaz e Mohammadreza herdaram. Uma família da elite de Teerã, com certa proximidade da monarquia. O xá fez lá uma reunião secreta com Stalin, Churchill e Roosevelt.

Quando vem a Revolução Islâmica, a mãe dos cineastas se engaja e filma muito nas ruas. É uma mulher forte, empreendedora e estudiosa. Chegou a se candidatar à presidência da República. Fundou uma editora/livraria e fazia traduções. No terreno da casa, criou um clube de tênis e, durante um tempo, transformou a casa num estúdio onde foram rodados 20 filmes e alguns curtas de Farnaz e Mohammadreza. A certa altura, o governo confiscou a casa e o avô teve que comprá-la de novo, o que o levou à bancarrota e à morte.

Os irmãos cineastas contam a história de três gerações da família centrando o foco na própria casa. A deterioração do prédio e da saúde da avó, assim como o aumento do número de gatos, marca a passagem do tempo. Nesse ínterim, dois tios retornam à casa. Um deles volta da guerra do Iraque e se isola numa parte separada da casa, tornando-se inimigo do resto da família, chegando a denunciar o clube de tênis à polícia, que é fechado por reunir homens e mulheres na mesma quadra. O outro regressa do exílio na Inglaterra em depressão e tem morte precoce.

O filme termina com a casa sendo posta à venda em 2022. Um belo roteiro documental, cheio de ressonâncias humanas e políticas. Bastante corajoso em se tratando de expor uma família iraniana em seus aspectos mais recônditos. Não há um juízo explícito sobre o Irã pré e pós-1979, mas fica clara a degradação de uma classe à medida que cessaram os privilégios e mudou radicalmente a ordem das coisas no país.

>> Silent House não está disponível no Brasil.

Trailer legendado em inglês:

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