“Levante” abre o Mix Brasil com um saque de energia

Depois de sair da Semana da Crítica de Cannes com o prêmio da crítica internacional (Fipresci), Levante, longa de estreia de Lillah Halla, abre hoje, em São Paulo, a 31ª edição do Festival Mix Brasil. Falo dele mais abaixo, mas antes preciso dimensionar a amplitude desse evento já tradicional na pauta do cinema LGBTQIA+.

Até 19 de novembro serão exibidos 119 filmes de 35 países e de 13 estados brasileiros, espetáculos teatrais transmídia originários de Taiwan, França e Brasil e experiências de realidade estendida (XR) com a temática queer vindas de diversos países. A programação envolve ainda literatura, performances sobre temas relevantes para a comunidade LGBTQIA+, o  tradicional Show do Gongo com Marisa Orth, a seleção MixGames de novos games que celebram a diversidade e a inclusão, o Crescendo com a Diversidade, destinado ao público infantil, e ainda a homenagem à ativista pela representatividade trans no teatro e no cinema Renata Carvalho, que receberá o prêmio Ícone Mix.

O público terá acesso a filmes premiados nos festivais de Berlim, Veneza, Cannes e San Sebastián, como Todas as Cores Entre o Preto e o Branco e Orlando, Minha Biografia Política, vencedores do Teddy Award em Berlim. O release do evento destaca, ainda, Intimidade Virtual, espetáculo multimídia desenvolvido por artistas de Taiwan e da Austrália em conjunto com a comunidade queer de São Paulo; games  como Lipsync Killers, jogo musical com elementos de RPG e lutas performadas por drags; e Ex Aequo, dez histórias inspiradoras de atletas profissionais que enfrentam discriminação baseada em raça, gênero, orientação sexual e deficiência.

O Mix Brasil acontece gratuitamente em sete espaços culturais da capital paulista, mas haverá também uma programação online para todo o Brasil nas plataformas SPcine Play, Sesc Digital e Itaú Cultural Play. Tudo pode ser consultado em detalhes no site oficial do evento.

A escolha de Sofia

O projeto de Levante está sendo preparado desde pelo menos 2015, mas chega às telas oito anos depois como se tivesse sido pensado e formatado exatamente hoje. É um filme antenado com a ética e a estética da periferia paulista, além de corajosamente defender o direito de uma mulher a gerir o seu próprio corpo. Essa mulher é Sofia, 17 anos, estrela do time de vôlei local. Convidada para estágio no Chile com uma bolsa fundamental para sua carreira esportiva, ela descobre que está grávida de uma relação furtiva. A situação pode afastá-la do time em hora decisiva.

Contando com a ajuda vacilante do pai e o apoio da namorada, Sofia fará várias tentativas de realizar um aborto, deslocando-se até mesmo ao Uruguai. Nesse périplo, vai descobrir que nem toda ajuda é o que parece. É quando o filme concretiza sua mais importante denúncia: os grupos fundamentalistas que tentam atrair jovens grávidas para dissuadi-las do aborto e, se for preciso, ameaçá-las.

Para manter vivo o seu sonho profissional, Sofia conta também com o suporte de suas colegas de vôlei e da treinadora (Grace Passô), em ambiente de potente sororidade. O desfecho, porém, terá uma carga de amargura e ironia em meio a acontecimentos violentos. A persistência da moça não deixará de cobrar um preço avantajado. Há tempos eu não via um filme com happy end tão pouco feliz.

A forte identidade de Levante se faz tanto pelo tema quanto por seu estilo energético. O elenco, encabeçado por Ayomi Domenica Dias (filha do rapper Mano Brown), está literalmente impecável na proposta de uma encenação naturalista muito apurada. Esse naturalismo, porém, é frequentemente rompido pelas precipitações e rupturas de continuidade visual da montagem de Eva Randolph, complementada pela diretora. A fotografia da venezuelana Wilssa Esser é outro trunfo de qualidade na criação de uma atmosfera calorosa e estimulante.

O que senti falta em Levante foi de uma conexão mais orgânica entre o argumento principal – o drama da gravidez indesejada – e os elementos que buscam conferir contemporaneidade à história. O fato de todo o time de vôlei ser composto de mulheres trans ou de gêneros fluidos parece gratuito, assim como o conteúdo erótico aparente no namoro de Sofia e Bel (Loro Bardot) ou ouvido em algumas canções da pulsante trilha musical. A impressão é de que esses ingredientes foram simplesmente acrescidos ao plot central e atuam apenas como um colorido de superfície.

5 comentários sobre ““Levante” abre o Mix Brasil com um saque de energia

  1. Mas o time não é inteiro por pessoas trans, tem apenas 3 personagens trans, o resto são mulheres cisgeneras.

      • Apagou meu último comentário. Você precisa estudar antes de querer dar opinião sobre algo que não domina. Indenidade de gênero e sexualidade são duas coisas diferentes. Gênero fluido é transgeneridade, e tem 3 personagens que são trans, e na vida real também são. O resto do time, que inclui Sofia, são pessoas e personagens cisgeneras, passando longe de serem trans. Não é gratuito por que não existe esse cenário, e mesmo que tivesse, não seria gratuito ter pessoas de gênero fluido por que elas existem. existem pessoas trans que menstruam e podem ter filhos. Cuidado ao abordar assuntos que mal tem conhecimento. Espero que dessa vez não apague meu comentário. Assisti esse filme no mix Brasil e fiquei encantada, encontrei sua crítica e achei sem fundamento algum o comentário das personagens. Ah, a trilha sonora acompanha o ritmo do filme. Nada gratuito.

      • Apaguei porque você soa desrespeitosa e agressiva. Não lhe conheço e sugiro que leve esse temperamento para outro lugar.

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