Aventura em profundezas excêntricas

BIZARROS PEIXES DAS FOSSAS ABISSAIS

Depois de 14 curtas, sempre divertidos e provocativos, o animador Marcelo Marão lança seu primeiro longa no mesmo diapasão. Sem fugir muito ao padrão das animações de sucesso contemporâneas, Bizarros Peixes das Fossas Abissais é uma aventura de super-heróis, com muita luta e correrias, mas envolvendo personagens sui generis.

Tem a super-heroína dotada de poderes inusitados, capaz de transformar partes do seu corpo em armas variadas. Ela está em busca dos cacos de um vaso que contém um mapa para localizar uma planta que poderá curar a Alzheimer do seu avô. Para isso conta com a ajuda de uma tartaruga com TOC e uma nuvem com incontinência pluviométrica. Em seu périplo pela Baixada Fluminense, a capital da Sérvia e o fundo do mar, o trio vai enfrentar rinocerontes espaciais que expelem suco de graviola e uma fauna marinha esdrúxula, que dá título ao filme.

Dessa vez, a pegada de Marão se afasta um pouco da ironia mais ácida que marcava, por exemplo, o genial curta Até a China, cartum hilário sobre a viagem do animador à China, plena de incorreções etnográficas. Bizarros Peixes visa mais um público juvenil em subgênero semelhante a animações estadunidenses recentes.

Com marcas muito próprias, no entanto. A estilização veloz do traço “marânico” às vezes cede lugar ao desenho mais detalhista de Fernando Miller (Calango Lengo, Furicó e Fiofó), seu parceiro na criação. O terceiro ato do filme, passado nas profundezas do oceano, se caracteriza por um balé de peixes excêntricos em interação com os três personagens centrais. A fluência do desenho é encantadora.

Nesse e em outros trechos, Marão abre mão do verbal para uma suíte de música e movimentos, ou mesmo de silêncios que destoam da histeria sonora comum em animações aventurescas como essa. O trabalho de ruídos, em conjugação com a trilha musical de Duda Larson, é um trunfo vibrante do filme.

>> Bizarros Peixes das Fossas Abissais está nos cinemas.  

Deixe um comentário