RIMINI no streaming
Rimini, a terra de Fellini e cenário bucólico de Os Boas Vidas, reaparece como um balneário fantasmagórico, cravejado de hotéis de decoração cafona, nesse novo filme do austríaco Ulrich Seidl. Pense num cineasta devotado a personagens patéticos, solitários, mas que também podem ser exemplarmente sórdidos. Esse é Seidl, consagrado por sua Trilogia Paraíso.
Rimini tem no centro da ação o veterano cantor brega Richie Bravo, austríaco que vive exilado na Itália se apresentando para pequenas plateias de turistas germanófonos em visita a Rimini. Sua estratégia é seduzir fãs idosas e ganhar alguns euros por duvidosos serviços sexuais, além de alugar sua casa para admiradores deslumbrados. Não sabemos o que o levou para aquelas paragens, mas somente que tem um pai doente e um irmão na Áustria, além de uma mãe que acaba de morrer. A rotina de Richie é quebrada com o surgimento de sua filha, que chega para cobrar – em dinheiro – tudo o que lhe foi negado durante 18 anos.
Mais uma vez, Ulrich Seidl trabalha as relações entre corpos, dinheiro e carências. Não há bons e maus nos seus filmes, mas apenas gente tentando se aproveitar do que é possível e outros dispostos a se entregar a qualquer ilusão que os conforte. Em Rimini, a música romântica pontuada por gestos jecas é uma plataforma para a prostituição de Richie, homem relativamente terno enquanto a necessidade não o colocar na rota da canalhice. As bordas do quadro são povoadas por imigrantes africanos ou árabes perdidos na ociosidade ou no oportunismo. O pai de Richie é um eco (não tão distante assim) do passado nazista. Retrato de uma parte da Europa que está à beira da falência econômica e espiritual.
Essa ideia é reforçada pela escolha de locações ermas e melancólicas, mergulhadas numa luz baça de inverno. A decoração kitsch dos interiores faz tudo parecer ainda mais deprimente. Seidl se esmera no seu típico hipernaturalismo, dando margem a uma atuação primorosa de Michael Tomas como esse urso de parque de diversões.
>> Rimini está na plataforma Mubi.
