HERE
Depois de Vidas Passadas nos contar a história de um amor que ficou só no ensaio, o belga Here nos traz versão ainda mais embrionária de uma relação amorosa. Ela acontece entre o romeno Stefan (Stefan Gota), operário da construção civil, e a belgo-chinesa Shuxiu (Liyo Gong), pesquisadora dedicada aos musgos. Embora seja esse o foco do filme, Stefan e Shuxiu só vão cruzar seus caminhos pela primeira vez aos 40 minutos, ou seja, na metade da duração.
Há uma razão formal para isso: Here é um filme de “restos”, no qual temos a impressão de nunca ver o essencial de cada cena, mas só as suas extremidades. Stefan quer esvaziar sua geladeira porque está saindo de férias para a Romênia e não sabe se voltará de lá. Com os restos de legumes e verduras, vai preparar sopas para presentear os amigos como despedida.
Em dois encontros com Shuxiu, nasce um esboço de interesse recíproco, uma empatia embalada pelo silêncio, por conversas banais e por caminhadas em que nunca andam lado a lado, mas um à frente do outro. Metáfora de um conexão fadada à efemeridade? O tempo de um encontro como esses é curto e frágil, ao contrário do tempo da Natureza que Shuxiu explora em suas minúcias. Os musgos estão por toda parte, sempre estiveram por aí, mas quase ninguém os vê, ela ensina.
Na direção, Bas Devos leva adiante um tanto do que vimos em Trópico Fantasma: o interesse pela figura do imigrante (Here é em grande parte dialogado em romeno), a visão de uma Bruxelas periférica cortada pelos trens e o metrô, e uma pequena fenomenologia dos encontros. Tudo é muito distendido e oblíquo, a ponto de pensarmos que nada está acontecendo na maior parte do tempo. Como o musgo que cresce imperceptivelmente entre as pedras.
>> Here está nos cinemas.

